| CRÍTICAS | Speak No Evil

Um casal dinamarquês, Bjørn (Morten Burian) e Louise (Sidsel Siem Koch), conhece um casal neerlandês, Patrick (Fedja van Huêt) e Karin (Karina Smulders) durante umas férias na Toscana e, apesar do curto período de tempo, desenvolvem uma forte relação de cumplicidade. Afinal de contas, como um dos dinamarqueses diz às tantas, este povo tem mais em comum com o dos Países Baixos do que com os dos seus colegas escandinavos. Por isso, quando Bjørn e Louise recebem uns meses depois um convite dos amigos para irem passar um fim-de-semana à sua casa, nos Países Baixos, a decisão é fácil de tomar.

Speak No Evil é o Brincadeiras Perigosas ao contrário. Ou seja, é um home invasion invertido, em que, ao invés, as vítimas são convidadas para a casa dos atacantes. São apenas três dias que Bjørn e Louise vão passar naquela casa rural, mas vai parecer uma eternidade. É que, ao contrário do que tinha acontecido na Toscana, os dois casais têm dificuldade em se identificarem. É certo que há momentos de cumplicidade, especialmente entre Bjørn e Patrick (ai o que o álcool não faz…), mas quando Karin insiste em disciplinar a filha dos dinamarqueses, quando Patrick parece observa-los na intimidade nocturna e quando insistem em dar carne a Louise apesar de ela ser vegetariana, é mais a estranheza do que a cumplicidade. E que raio se passa com o filho dos neerlandeses, aquele gaiato que nasceu sem língua?

Speak No Evil é sempre mais desconfortável do que propriamente assustador (por vezes é mesmo involuntariamente divertido), se bem que o realizador Christian Tafdrup insiste em abusar dos códigos do cinema de terror. Especialmente a banda-sonora sinistra, que sublinha a traço grosso os momentos vais estranhos, para nos lembrar que estamos a ver um filme de terror. No entanto, isso não significa que não seja perturbador o suficiente para desviarmos o olhar. Por exemplo, quando Patrick decide disciplinar à bruta as capacidades do filho para dançar, por ter a coordenação motora de uma avestruz a dançar, é uma sequência particularmente penosa.

Tafdrup explicou que o filme foi baseado num caso verídico que lhe aconteceu a si e à esposa. Depois de conhecerem um casal durante umas férias, foram convidados para irem passar uma temporada à sua casa, apesar de saberem muito pouco uns dos outros. Tafdrup recusou, mas acabou por imaginar um cenário hipotético para o que lhes poderia ter acontecido caso tivessem feito aquela viagem. O que faz de Speak No Evil um filme mais de possibilidades, faltando-lhe um pouco de estrutura. Ou seja, não existe realmente um motivo para o último acto de Speak No Evil, em que se torna realmente violento e gráfico, mas ei… Michael Haneke sempre nos mostrou que não é preciso um motivo para a violência. Aliás, é assim que são normalmente os home invasion movies, raramente existe uma razão racional. Speak No Evil é um sólido McBacon e, possivelmente, ainda nos vai fazer ouvir falar dele mais vezes.

Título: Speak No Evil
Realizador: Christian Tafdrup
Ano: 2022

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