| CRÍTICAS | Fenómeno

Nenhum filme é 100 por cento inútil, uma vez que podem sempre servir de mau exemplo. Felizmente, para Fenómeno há algo mais. É que este é aqueleque será sempre recordado como o filme em que John Travolta (e Forest Whitaker) falam português. Quer dizer, têm aquele sotaque americano de quem aprendeu apenas a fonética da língua, mas já é qualquer coisa. Até a actriz que faz de portuguesa (Elisabeth Nunziato) tem o mesmo sotaque forçado. Só há lá um velhote que é mesmo português, sabe Deus onde é que o foram desencantar.

Fenómeno é a história de John Travolta, um homem simples e não muito esperto que, na noite do seu aniversário, vê uma estranha luz no céu e fica inteligente de repente. Começa a ler livros atrás de livros, inventa um combustível a partir de estrume, consegue prever sismos e aprende a falar português fluentemente em 20 minutos. Ah, e tem poderes de telequinese. Durante algum tempo a população do vilarejo onde vive (excepto o médico (Robert Duvall) e o melhor amigo (Forest Whitaker)) vão duvidando da sua palavra, mas quando as acções começam a deixar toda a gente convencida e chamar a atenção de cientistas e do FBI, as coisas começam a mudar.

Travolta faz de Simple Jack, o simplório da aldeia de bom coração, que vai provar pela enésima vez que o que conta é o que está lá no fundo e não as aparências. É certo que Travolta não vai full retard, como o de Tempestade Tropical, mas é pateta bom coração, o idiota feliz que insiste em conquistar a miúda gira da aldeia (Kyra Sedgwick), apesar de ela lhe dar com os pés constantemente e o tratar mal. Fenómeno é um daqueles filmes bem intencionados, que não aspira muito mais do que a uma tarde de domingo no sofá.

E, no entanto, tudo parece mudar ao entrar no último acto. John Travolta começa a ser engolido pela multidão e toda a gente quer um pedaço dele, tanto os que acreditam nos seus novos poderes paranormais, como os que o atacam por acharem que tudo não passa dum número. E quando nos sentamos melhor no sofá para o que aí vem, o realizador Jon Turteltaub decide inverter a marcha e ir por outro caminho completamente ao lado. Fenómeno abraça então o melodrama e, na última parte, tenta forçar o tearjerker de todas as maneiras e feitos.

Fenómeno é, por isso, um daqueles filme que, de forma involuntária, nos tenta dar aulas de moral, o que se torna extremamente irritante. E John Travolta, tadinho, apesar de ser meio tolo não deixa de ajudar os amigos próximos até no seu último suspiro. Tudo muito previsível, esquemático e aborrecido. Por isso, mais vale recordar Fenómeno como o filme em que John Travolta (e Forest Whitaker) falam português do que como um Happy Meal.

Título: Phenomenon
Realizador: Jon Turteltaub
Ano: 1996

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