| CRÍTICAS | Jovem Demais Para Morrer

Em Kalifornia, filme que tenta entrar na cabeça de um serial killer a partir de um escritor que tenta entrar na cabeça de um serial killer, há uma cena em que David Duchovny discute com os amigos se os assassinos devem ser ou não condenados à cadeira eléctrica. É aí que Duchovny defende que “a maioria destas pessoas sofrem de distúrbios mentais e a solução é a pesquisa e o tratamento em ambiente hospitalar”, o que vale uma série de pff e mehs do amigo. Curiosamente, Kalifornia conta também como Juliette Lewis, enquanto namorada e dano colateral do serial killer protagonista, actriz que teve o seu grande momento neste Jovem Demais Para Morrer, pequeno telefilme inspirado em factos reais sobre a pena de morte.

Outro facto trivial: também um jovem Brad Pitt entra no filme e forma um casal com Juliette Lewis. Aliás, os dois começaram aqui um relacionamento que durou precisamente até à rodagem de Kalifornia. Ele tinha 24, ela 16. Ou seja, Jovem Demais Para Morrer e Kalifornia têm vários pontos de contacto, tanto na vida real como na parte ficcional.

Jovem Demais Para Morrer inspira-se no caso real de Attina Marie Cannaday, a primeira menor de idade a ser condenada à morte nos Estados Unidos, quando tinha apenas 14 anos(!). A razão da condenação? Ter esfaqueado, com a ajuda do namorado (também ele condenado à morte), um militar de quem tinha sido amiga. Ou seja, uma forma simplista de resolver as coisas. Jovem Demais Para Morrer procura mostrar que as coisas são mais complexas do que isso e mostra como se chega a um caso horrendo como este. Por outras palavras: as pessoas podem ser naturalmente malvadas ou são uma casualidade da sociedade?

Jovem Demais Para Morrer, como bom telefilme que é, procura simplificar as coisas o máximo possível. Para isso, torna o argumento no mais esquemático possível, reforçando ao máximo os momentos dramáticos até ao limite do melodrama. Isso significa que Juliette Lewis vai sofrer as passinhas do Algarve cena sim cena não: violado pelo padrasto repetidamente, abandonada pela mãe, deixada pelo marido poucos meses após o casamento ainda menor, levada para a prostituição, drogas e bebida por Brad Pitt e, finalmente, uma morte num momento de loucura afogada nisto tudo. Juliette Lewis quase que podia ser a personagem de um filme de Teresa Villaverde.

Juliette Lewis tinha aqui o seu primeiro papel a sério e deu tudo o que tinha para dar. De tal forma que passou a década seguinte a repetir vezes sem conta o mesmo papel: O Cabo do Medo, Kalifornia, Assassinos Natos… E, de tal forma, que a sua carreira quase que se estou depois disso, vindo-se a esvaziar lentamente desde então. No entanto, Jovem Demais Para Morrer só sobrevive por sua culpa, com um par de momentos (e monólogos) que mostravam logo que havia aqui actriz. E, claro, por ter também revelado um muito jovem Brad Pitt, que no ano seguinte entraria de vez no sistema com a breve, mas marcante participação em Thelma e Louise. Ou seja, Jovem Demais Para Morrer é um Happy Meal que só não é descartável porque traz esses dois brindes dentro da caixa.

Título: Too Young to Die?
Realizador: Robert Markowitz
Ano: 1990

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