| CRÍTICAS | Wasabi – Duros de Roer

Quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha?
Luc Besson pode ter querido provar que era possível fazer na Europa um cinema de massas recriando o molde norte-americano do blockbuster de Hollywood, mas se pensarmos que o primeiro Velocidade Furiosa é de 2001 e o primeiro Táxi – Uma Viagem Alucinante é de 1998, afinal quem é que copiou quem? É o típico caso do criador ultrapassado pela sua própria criação.

Gérard Krawczyk, realizador que viria a fazer mais do que um episódio do Táxi – Uma Viagem Alucinante, assinou esta produção de Luc Besson que emulava um género muito querido ao cinema norte-americano dos anos 80: o buddy movie. E fa-lo também seguindo uma fórmula muito querida aos norte-americanos: a de cruzar nacionalidades diferentes e jogar também com o choque de culturas nesse conflito de personalidades. Assim, tal como Hora de Ponta (e antes Outubro Vermelho, por exemplo), Wasabi – Duros de Roer é uma co-produção franco-japonesa, que atira Jean Reno para o país do sol nascente para ver no que dá.

Jean Reno, sempre a viver do seu legado de Léon, O Profissional, é então um polícia durão, algures entre o Dirty Harry de Clint Eastwood e os exageros hiper-estilizados de El Mariachi. Até para o género, os seus métodos pouco ortodoxos, de socar tudo o que mexa à frente e que pareça minimamente culpado é ligeiramente excessivo. Por isso, quando atira para o hospital o filho do presidente da câmara, o seu chefe ordena-lhe que tire umas férias prolongadas. Altura perfeita para ir tentar encerrar finalmente o trauma da namorada japonesa que o abandonou sem qualquer explicação há 19 anos atrás e que continua a fazer com que viva refugiado no trabalho e com uma pedra em vez do coração.

É precisamente nesta altura que chegam as notícias que vão espoletar Wasabi – Duros de Roer: a ex-namorada faleceu. Viagem rápida até ao Japão para assistir ao funeral e eis a notícia que ela lhe deixou uma prenda inesperada: uma filha de 19 anos (Ryôko Hirosue), a poucos dias de atingir a maioridade, que se veste como um Pokemon e que é tão destrambelhada quanto um cliché japonês pode ser. E se Jean Reno não estava à espera de ter uma filha, muito menos estava em se ver enrolado numa intriga com a yakuza e vários biliões de dólares.

Eis então Jean Reno novamente atrelado a uma miúda, se bem que aqui a tensão sexual já não é tão desconfortável porque Ryôko Hirosue já não é propriamente uma criança como era Natalie Portman. Wasabi – Duros de Roer recital não só León, O Profissional, como todos os lugares-comuns do buddy movie, apostando tudo na relação aparentemente inconciliável entre aquele francês durão e aquela japonesa excessiva. Caso isso não funcionasse, Gérard Krawczyk tinha sempre o trunfo do comic relief para jogar: Michel Muller, o antigo parceiro polícia que vive no Japão também, e que é tão irritante quanto o é Rob Schneider em Knock Off – Embate, outro filme que está sempre a vir à memória.

Wasabi – Duros de Roer esgota-se ao fim de trinta minutos, até porque Krawczyk não tem qualquer ideia digna de nota ou dele próprio. Aliás, a sua ideia de realização é abanar a câmara muito depressa, com planos de esguelha, para mostrar que é bué jovem e bué maluco. Wasabi – Duros de Roer é um eurotrash que é muito do seu tempo e que só tem tendência a envelhecer pior, se bem que não deve já baixar mais do que o Happy Meal.

Título: Wasabi
Realizador: Gérard Krawczyk
Ano: 2001

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