| CRÍTICAS | Jeepers Creepers

Victor Salva começava a criar buzz quando, em 1998, foi arrecadado por abuso sexual de menor e posse de pedofilia. cumpriu 15 meses e, quando saiu, regressou ao cinema. Rapidamente, os seus novos filmes levaram a pedidos de boicote e muitas críticas públicas, provando que a “cultura de cancelamento” (sempre que alguém usa esta expressão odiável morre uma foca no Ártico) não é um fenómeno recente de gente sensível, como muita boa gente crê. Para esses, é apenas um problema de memória, aparentemente.

Jeepers Creepers foi o filme que Salva fez em 2001 e que continua a ser o seu mais bem-sucedido trabalho. Tão bem sucedido que deu origem a um franchise daqueles que continua por aí a arrastar-se, mesmo que já ninguém lhe preste atenção. O realizador fez os três primeiros, mas é o Jeepers Creepers inicial que continua a ser, de longe, o melhor.

O filme é um monster movie à antiga, com uma criatura que rivaliza com os clássicos. É mesmo, muito provavelmente, o último grande monstro do cinema. Jeepers Creepers não dá grandes explicações sobre o que é ou de onde vem, limitando-se ao mais básico: é uma criatura sobrenatural que acorda durante 23 dias a todos os 23 anos, para se alimentar de humanos, de quem consegue cheirar o medo.

Quem vai descobrir isso da pior maneira é Justin Long (que fazia aqui a sua transição para o cinema de terror) e Gina Philips (quem?), dois irmãos de regresso a casa dos pais para as férias de verão. Enquanto atravessam o país de carro, cruzam os seus caminhos com um tipo gigante e assustador, vestido como o Undertaker, que conduz um camião todo quitado e com uma matrícula que diz BEATNGU (be eating you? beating you? beat and go?), que vêm a atirar corpos enrolados num lençol para dentro de um poço. Claro que os dois irmãos vão voltar para trás para ver melhor, porque senão não havia filme. Big mistake!

O arranque de Jeepers Creepers é absolutamente assustador e deixa-nos agarrados para o resto do filme, com Victor Salva a controlar perfeitamente os timings dos sustos, o suspense e a expectativa. Mesmo quando o filme entra nos seus momentos mais… irrealistas e a criatura – o Creeper – revela ser um monstro com asas de demónio(?), nós ainda engolimos a coisa porque ainda há crédito acumulado para gastar.

Há umas influências de John Carpenter por ali, nem que seja na cena em que os jovens se refugiam numa esquadra da polícia e a criatura provoca uma chacina no interior, mas Jeepers Creepers baseia-se sobretudo na lógica do slasher. É certo que Salva evita qualquer tensão sexual entre os protagonistas, ao torna-los em irmãos, mas nunca sabemos se isso foi melhor ou pior. É que Long e Philips são tão irritantes, que às tantas já estamos a torcer pelo monstro.

Jeepers Creepers é um filme certinho, com cerca de hora e meia, que ajuda a mante-lo envernizado, mas Victor Salva consegue isso à custa de evitar filmar o fim. É que Jeepers Creepers não tem final, o que pode ser terrivelmente frustrante, especialmente para quem tem o irrritantok hábito de esperar um arco narrativo completo. Para esses, o McChicken até pode ser ligeiramente demasiado.

Título: Jeepers Creepers
Realizador: Victor Salva
Ano: 2001

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