| CRÍTICAS | Barry Seal – Traficante Americano

À medida que os Estados Unidos foram perdendo a sua hegemonia na ordem mundial, Hollywood foi desistindo gradualmente dos seus filmes de direita, ultra-nacionalistas, em que sacos de músculos salvavam o mundo sozinhos, apenas armados com um cotonete e sem sofrer um arranhão. Os seus filmes de acção passaram a ser cada vez mais vulneráveis até que Argo inaugurou oficialmente um novo sub-género: o thriller político auto-depreciativo. São filmes baseados em eventos reais, em que os Estados Unidos continuam a interferir nos destinos do mundo, mas com resultados miseráveis e estratégias no mínimo duvidosas.

Barry Seal – Traficante Americano é uma biografia (aparentemente muito) livre de Barry Seal, um piloto oportunista e espertalhão que, no final dos anos 70, foi recrutado pela CIA para sobrevoar e fotografar os países da América Central e do Sul onde as revoluções anti-capitalistas começavam a germinar. Rapidamente, Barry Seal passou a trabalhar para todos os lados, tornando-se num agente duplo. E triplo. Enfim, múltiplo. Barry Seal passou a tratar por tu o general Noriega, tornou-se no principal transportador de coca do cartel de Madellin (sim, Pablo Escobar também passa por aqui, para aproveitar o fenómeno Narcos) e foi o principal fornecedor de armas dos Contras. E tudo isto sem perceber propriamente o que se estava a passar, preocupando-se apenas com uma coisa: em encher os próprios bolsos o máximo possível.

É um anti-herói que o realizador Doug Liman manipula para cair nas nossas graças. Barry Seal, que era conhecido pela alcunha de El Gordo, é aqui interpretado pelo super-carismático Tom Cruise. Além disso, dão-lhe uma esposa (Sarah Wright) escultural e linda de morrer. E, por fim, coloca-o a quebrar a quarta barreira e a dialogar directamente connosco, tornando-se cúmplices de todos aqueles esquemas.

O resultado é então um daqueles thrillers pop. com muitas personagens e situações bizarras, em que David O. Russell se tornou mestre. A diferença é que Doug Liman é um realizador muito mais convencional, que prefere confiar na história do que em truques de câmara, split screens ou saltos narrativos temporais.

E não há nada de mal nisso. Barry Seal – Traficante Americano é assim um belo pedaço de entretenimento para ferroar o dente, uma pipocada que, entre or realismo dos factos e o absurdo da ficção, opta sempre pelos segundos. E se nos anos 80 Hollywood fazia filmes de acção e buddy movies com uma perna às costas, actualmente são estes thrillers auto-depreciativos que tomaram o seu lugar no mercado. Saímos a ganhar ou a perder? Impossível de dizer, pelo menos a esta distância. Mas o mais certo é não haver uma resposta correcta a essa questão. Para já, o que sabemos é que, neste caso especifico, saímos a ganhar com um McBacon.

Título: American Made
Realizador: Doug Liman
Ano: 2017

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