| CRÍTICAS | O Exorcista do Vaticano

O filme de exorcismo é um dos sub-géneros do terror mais apetecíeis, por toda a simbologia cristã que permite subverter e (quase) sem acusações de blasfémia. E, no entanto, a verdade é quede exceptuando O Exorcista “original”, todos os outros são… maus. A razão principal para esse descalabro é precisamente essa: o pessoal parece deslumbrar-se com o frenesim iconoclasta e esquecem-se de que têm um filme para fazer.

O Exorcista do Vaticano baseia-se livremente na figura de Gabriele Amorth, o padre que, entre 1986 e 2016, foi o exorcista oficial da Santa Igreja. Aliás, quem gosta de filmes de exorcismo, provavelmente já ouviu falar dele. É que William Friedkin, precisamente o realizador de O Exorcista, era um bom amigo e fez um documentário sobre ele. Chama-se O Diabo e o Padre Amorth e, tal como a maioria dos filmes do género, é igualmente mau.

Russell Crowe faz então de Amorth, um padre aparentemente pouco ortodoxo, que pragueja, diz tiradas espirituosas e mete-se com as freiras, ao mesmo tempo que embarca em profundas discussões teológicas com as altas patentes do Vaticano, defendendo que o Mal é bem real e não uma metáfora bíblica. E é precisamente Crowe que vai ser enviado a Espanha para investigar o possível caso de possessão de um menino, por parte do próprio Papa (óptimo casting de Franco Nero).

O menino é o filho de Alex Essoe, que acaba de se mudar dos Estados Unidos para o palacete espanhol que acabara de herdar, cruzando assim o filme de exorcismo com outro sub-género muito popular no terror: a casa assombrada. Russell Crowe vai para Espanha de Vespa(!), porque isso dá também uns planos fixes. E assim que chega vai cair numa espécie de plano mirabolante das trevas. É que o demónio quer controlar o Vaticano e implementar uma nov ordem mundial e, para isso, vai possuir um menino em Espanha, para depois chamar o exorcista do Papa, possuir esse e, finalmente, passar para o Santo Padre. Uff, para um demónio todo-poderoso, parecem demasiados passos para um plano tão simples.

Entretanto, pelo caminho, vão ser ainda encontradas uma tumbas milenares na cave do palacete, onde O Exorcista do Vaticano parece querer salvar a cara do Vaticano. É que, afinal, ficamos a saber que a Inquisição só foi a página mais negra do Cristianismo porque o Papa da altura estava possuído. Até admita que a igreja católica tenha renunciado a qualquer ligação com o filme.

O Exorcista do Vaticano é assim uma sucessão de clichés, sempre demasiado exagerados até caírem no camp, com um Russell Crowe que está a claramente a divertir-se, mas que, infelizmente, é o único que se diverte. Até porque parece que está sempre a fazer outro filme: um série b bem xunga, com mais humor do que seriedade. Ainda por cima, no final descamba num Indiana-Jones-católico-conspirativo (mais Dan Brown do que Indiana Jones, diga-se), com forças do Mal e muita fantochada. Com uma Hamburga de Choco deste gabarito até dá graça que o Vaticano tenha sentido necessidade de se vir demarcar do filme, realçando que era tudo invenção. No shit, Sherlock!

Título: The Pope’s Exorcist
Realizador: Julius Avery
Ano: 2023

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