| CRÍTICAS | Pancadaria Chinesa

O cinema de Hong Kong está, desde o início, intrinsecamente ligado às artes marciais e tem sido dominado por dinastias ao longo dos anos. Primeiro foi a dos Shaw Brothers, depois a de Bruce Lee e, mais tarde, a de Jackie Chan. Em plenos anos 80, Chan estava no auge da sua forma e assumia-se como o rei do cinema de porrada, que não tardaria até dar o salto para Hollywood. Afinal de contas, o seu estilo era bem diferente do dos sacos de músculos que dominavam o cinema de acção da altura, já que era mais físico, fazia as suas próprias acrobacias e dava o corpo ao manifesto.

Dessa sua fase tão profícua, há a destacar a série de filmes que fez com os seus amigos e antigos colegas de escola, Biao Yuen e Sammo Hung (este último era também realizador e assina este título de que vos falo aqui), que ficariam conhecidos como os Três Dragões. São comédias de acção intensas, com muitas acrobacias onde os três não têm receio de pôr o corpo à prova, mas que devem tudo ao cinema físico de Buster Keaton ou Harold Lloyd. Não admira que, portanto, haja sempre uma careta a seguir a qualquer gag e uma graçola enfiada em todas as sequências de acção.

Pancadaria Chinesa passa-se em Barcelona, onde Jackie Chan e Biao Yuen têm uma carrinha de street food e sabem kung-fu(!). E depois admiram-se do estereótipo de que todos os chineses sabem kung-fu… Também Sammo Hung é danado para a porrada, mesmo que ninguém o adivinhe pelo seu físico. Aqui faz de detective privado e, juntamente com os dois colegas, vão-se envolver com uma jovem tão bela quanto misteriosa (Lola Forner), numa trama bem irrealista que envolve gangsters e heranças desconhecidas.

Claro que nada disso interessa, porque o argumento é apenas um pretexto para avançar o dispositivo fílmico de cena de pancadaria em cena de pancadaria. E ainda bem, porque a história de Pancadaria Chinesa é bem problemática, gozando com os sem-abrigo ou com a saúde mental dos pacientes do hospício local (os malucos em oposição aos normais). Bem mais interessantes são então as sequências de acção, sempre filmadas em planos longos que nunca colocam em causa a leitura das cenas, e com Chan, Yuen e Hung a fazerem pela vida. E. claro, termina com aquela que é considerada a melhor cena de luta da carreira de Jackie Chan, frente ao lutador profissional Benny Urquidez. Se rebobinarem o filme directamente para essa parte vão ver que o Cheeseburger sabe exactamente ao mesmo.

Título: Fai Caan Che
Realizador: Sammo Kam-Bo Hung
Ano: 1984

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