| CRÍTICAS | Evil Dead Rise – O Despertar

A trilogia Evil Dead, de Sam Raimi, é uma das instituições do cinema de terror que fez parte da minha dieta cinéfila formativa. Como, aliás, deve ser para qualquer pessoa que goste de cinema de género, tenha um site de cinema ou ambas as opções em simultâneo. No entanto, confesso que me perdi com tudo o que tem acontecido ao franchise nos últimos tempos, com remakes, séries de televisão e o diabo a quatro.

Mesmo assim, decidi ver Evil Dead Rise – O Despertar, que é uma espécie de filme stand-alone, que (supostamente) deverá inaugurar uma nova trilogia. E, depois da abertura, dei por mim a questionar-me porque não tenho prestado mais atenção a isto. Afinal de contas, Sam Raimi e o próprio Bruce Campbell sempre foram muito protectores em relação à sua criação. Nunca mais voltarei a duvidar de um Evil Dead.

É uma óptima sequência de abertura a de Evil Dead Rise – O Despertar. Tudo começa com um plano subjectivo a voar rente por entre as árvores de uma floresta, como no início do A Noite dos Mortos-Vivos original. Só que, em vez de um POV de uma qualquer entidade demoníaca, o que ali é… um drone. Em poucos segundos fica feita a ligação entre o franchise fundador e este tomo, assim como fica feita a ponte entre o passado e o presente.

Depois encontramos três adolescentes a passar férias numa cabana isolada e uma delas está misteriosamente a sentir-se mal. De repente, há escalpes arrancados e, antes que a coisa descambe no slasher que está a prometer, o título do filme irrompe do horizonte, a reflectir na água do lago, onde o copo possuído da jovem está em suspenso. É uma entrada gloriosa e já nem sequer nos importamos que esse prólogo não tenha aparentemente nada a ver com o resto do filme.

É que o verdadeiro cenário de Evil Dead Rise – O Despertar vai ser o edifício Monde (anagrama de… demon), um antigo banco convertido em apartamento, que vai ser demolido em um mês. Ellie (Alyssa Sutherland) e os três filhos são uma das últimas famílias que ainda permanecem e acabam de receber a visita da tia fixe, Beth (Lily Sullivan), que é técnica de guitarras. Entretanto, o miúdo há de encontrar o Necronomicon (um verdadeiro fá de terror sabe o que é o livro dos mortos), num cofre esquecido na cave, irá libertar um demónio e bem-vindos ao mais violento filme de possessão dos últimos anos.

O realizador Lee Cronin redefine o conceito de porn gore de Eli Roth, recuando às matanças do porco de Peter Jackson e de clássicos como Morte Cerebral, mas sem nunca ir até ao lado cartunesco da coisa. Evil Dead Rise – O Despertar também retira a famosa cena do Shining, do elevador cheio de sangue, bem ciente de qual é a sua tradição cinematográfica. E para os maluquinhos dos Evil Dead há também uma série d referências directas, incluindo uma moto-serra amarela, que irá ser decisiva na cena final, num body horror monstruoso que, mais do que a David Cronenberg, vai beber ao Veio do Outro Mundo, de John Carpenter.

Nem tudo é perfeito em Evil Dead Rise – O Despertar. Há, por exemplo, um sub-enredo com a rapidez secreta de Beth, que não aquece nem arrefece. Mas é tão refrescante ver um filme de terror sem merdas, à antiga, que é impossível não nos entusiasmar com este McBacon.

Título: Evil Dead Rise
Realizador: Lee Cronin
Ano: 2023

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *