| CRÍTICAS | Safety Not Guaranteed

Os mais antigos lembram-se dum anúncio nos classificados do jornal, nos Estados Unidos, que se tornou célebre no programa do Jay Leno e, depois, num meme popular. Dizia assim:

Procura-se: alguém para viajar atrás no tempo comigo. Isto não é uma piada. Caixa Postal 322, Oakview, Califórnia. Será pago no regresso. Deve trazer as suas próprias armas. Segurança não garantida. Fiz isto apenas uma vez.

Acredite-se ou não, é um anúncio que chama a atenção e que não deixa ninguém indiferente. Provavelmente é mentira, mas imaginem que não é. Por isso quem é que resiste em saber mais? Será que é um maluquinho que acredita mesma que inventou uma máquina no tempo ou é uma partida? As perguntas são muitas, as hipóteses são ainda mais e foi a partir desse pequeno classificado de um jornal norte-americano que o realizador Colin Trevorrow construiu Safety Not Guaranteed. Baseado em factos reais, diz. Bem, não está factualmente errado, o filme é baseado num facto real.

Curiosos com a história que pode estar por trás desse anúncio, um jornalista não muito profissional (Jake Johnson) e dois estagiários (a sarcástica e anti-social Aubrey Plaza e o geek Karan Soni) partem para Oakview para descobrirem o que se passa. Enquanto Jake Johnson procura encontrar e reconectar-se com uma antiga paixão do liceu (que, inesperadamente, está… mais velha(!) do que ele se lembrava), Aubrey Plaza assume o comando da operação e infiltra-se junto de Mark Duplass, um daqueles paranóico survivalista que agora parece que triplicaram com a internet e que garante ter inventado uma máquina do tempo para regressar a 2001. Só que é preciso irem devagar, porque o Governo está a segui-lo.

Safety Not Guaranteed é uma comédia seca, com iguais doses de humor circunstancial, humor auto-depreciativo e algumas situações inconvenientes, que constrói surpreendentemente (e inesperadamente, diga-se) personagens mais complexas do que esperávamos à partida. E à medida que Aubrey Plaza se vai aproximando mais de Mark Duplass, Jake Johnson começa a aprender a amar a nova imagem da antiga namorada de liceu e até Karan Soni. Safety Not Guaranteed torna-se num filme terno sobre o amor, dando razão à minha avó que dizia sabiamente que há sempre um testo para cada panela.

Safety Not Guaranteed lembra aquelas comédias indie desajeitadas que formaram uma breve tendência na primeira década deste século, como Garden State ou Eu, Tu e Todos os que Conhecemos, mas com um twist. É que, de repente, Mark Duplass está mesmo a ser seguido por agentes federais. Esperem lá, então quer dizer que ele inventou mesmo uma máquina do tempo? Toda a patetice do treino de artes marciais para poder viajar em segurança no tempo que temos estado a ver faz sentido e é real? E é assim que Safety Not Guaranteed termina no final mais inesperado de todos os tempos, num fim que vai ser altamente insatisfatório para uns, mas suficientemente revelador para os restantes. Eu confesso que gostei mais do filme do que do final, já que não há aqui o factor de maravilhamento que havia num O Grande Peixe e que ajudava a sustentar tudo o resto. O McBacon é para o filme, portanto.

Título: Safety Not Guaranteed
Realizador: Colin Trevorrow
Ano: 2012

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