| CRÍTICAS | Aladdin

Precisávamos tanto que a Disney andasse a refazer os seus clássicos de animação em imagem real (inundados de CGI, claro, porque por muito que se treinem os animais estes ainda não falam), como precisamos de um buraco na cabeça. Mas pronto, já que eles existem, vamos lá vê-los.

Aladdin é a nova empreitada, depois de A Bela e o Monstro e antes de O Rei Leão (heresia!). E não deixa de ser curioso que a Disney volte a apostar numa história que explora aquele imaginário místico do Médio Oriente, meio exótico meio misterioso. Se estas ilusões de 1001 noites sempre apaixonaram os ocidentais desde os tempos de Xerazade, a verdade é que vivemos actualmente tempos de islamofobia, que transformaram os árabes em inimigos número 1.

E se falámos de Xerazade, a referência não foi inocente. É que Aladdin começa com um pai (Will Smith) a contar aos filhos a história de Aladino e o génio da lâmpada mágica, retomando a tradição da oralidade que contrói todo o épico de As 1001 Noites. Aladdin (Mena Massoud) era um jovem órfão, ladrão nas ruas da imaginária de Agrabah, mas com um coração tão grande quanto o seu carácter. Depois de se apaixonar pela princesa Jasmine (Naomi Scott), Aladino talvez tenha uma chance de concretizar aquele amor proibido ao encontrar uma lâmpada mágica, com um génio (Will Smith) e respectivos três desejos.

Aladdin mistura então o romantismo das aventuras em locais exóticos (cenário explorado até à exaustão em tempos idos, por heróis de capa e espada, por Sinbad, Sandokan ou… Elvis Presley) com a habitual mensagem moral da Disney. Há intriga política e paixões proibidas, mas tudo não são mais dos que simples provações para se reflectir sobre a ética, a honestidade e o companheirismo. E, claro, há os animais antropomorfizados: o macaco de Aladino, o papagaio do vilão Jafar (Marwan Kenzari) e o tigre de Jasmine.

O que Aladdin faz é actualizar o clássico de 1992 – uma das melhores animações da Disney, diga-se -, não aos tempos de hoje, mas às possibilidades da tecnologia do presente. E nisso, o filme tem momentos de encher o olho, como a entrada de Aladino em Agrabah mascarado de princípio, que é um verdadeiro carnaval do Rio. Também ajuda em ter Guy Ritchie aos comandos, não por ser um realizador de grandes ideias, mas por ser o rei da reciclagem cinéfila. Basta ver como fez uma carreira a partir das ideias de outros (o Tarantino riu-se).

Também não falta a Aladdin os números musicais, aqui mais curtos do que em 1992, mas igualmente com boas canções do repetente Alan Menken, mas o que realmente interessa no filme é… o génio da lâmpada. Robin Williams, em grande forma e com rédea solta, elevava o filme original a outro patamar de galvanização, e a curiosidade era muita para ver como Will Smith se iria safar aqui. E o certo é que, apesar de lhe faltar um pouco daquele caos niilista à Looney Tunes que Williams tinha de forma muito saudável, não se porta nada mal.

Ou seja, Aladdin não ofende ninguém, nem tão-pouco a memória do filme anterior. Mas dá toda a razão aqueles que não vêm razão qualquer razão para a Disney andar a refazer os seus desenhos-animados em live action. Porque além de serem isso mesmo, remates, são igualmente fake. E o que se costuma prescrever nestes casos é sempre o Double Cheeseburger.

Título: Aladdin
Realizador: Guy Ritchie
Ano: 2019

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