| CRÍTICAS | The Fanatic

Há coisas que custam a entender.
Toda a gente sabe, dentro e fora de Hollywood, que nunca se deve ir full retard. Oh que raio, se até eu sei isso, não há forma de John Travolta não o saber. Até fizeram um filme sobre isso e tudo! E, no entanto, eis Travolta a fazer de Simple Jack – ele é, literalmente, o Simple Jack – em The Fanatic.

Mas o que havíamos de esperar de um filme realizado por… Fred Durst? Eu sei que ele já tinha feito, em tempos, uma cisa qualquer com o Jesse Eisenberg, mas mesmo assim não consigo deixar de ficar surpreendido por estarmos em 2019 e Fred Durst ter feito um filme. E The Fanatic não é só mau como esperávamos. É mesmo confrangedor. Tão confrangedor que até tem uma cena de auto-elogio aos Limp Bizkit, em que Devon Sawa mete a tocar um CD da banda e insiste em dizer coisas como estes gajos eram muito bons sem ninguém lhe perguntar nada. É o equivalente aquelas pessoas que metem like nos seus próprios posts.

The Fanatic é a história de um homem-bebé com um certo atraso (John Travolta com mais uma escolha capilar duvidosa e num overacting bem cringe), que é obcecado por cinema e memorabilia, mas que é sobretudo obcecado por um actor: Hunter Dunbar (Devon Sawa). Por isso, quando acaba por o conhecer, rapidamente a sua admiração escala para a perseguição e para uma série de más decisões, a que Hunter Dunbar reage de mau humor.

Mas isso não é o Adepto Fanático?, perguntam vocês. Sim, é. Mas tendo em conta que este é feito por Fred Durst, podia-se esperar alguma dimensão autobiográfica ou meta-referencial. Se o é, Fred Durst, meu caro, precisas urgentemente de ajuda. Ainda para mais porque não se percebe qual a mensagem do filme, que desagua num gore tão gratuito quanto despropositado. Devemos estar do lado daquele “jovem incompreendido e de bom coração” ou do actor que não consegue estar em paz na sua vida? A resposta é duvidosa.

É tudo mau em The Fanatic. Há uma empregada que morre casualmente no jardim de Hunter Dunbar, mas que só é encontrada na última cena, apesar de viverem duas pessoas na casa, mais o jardineiro(!). Há buracos no argumento e falhas de continuidade inexplicáveis, como o bully (Jacob Grudnik) que azucrina Travolta e que o maltrata, depois pede-lhe ajuda, a seguir maltrata-o outra vez e depois volta a perguntar-lhe se o ajuda ou não (e essa ajuda consiste em ser o seu parceiro carteirista, porque toda a gente sabe que os autistas dão os melhores assaltantes). Há cenas totalmente inconsequentes, como a que Travolta tem uma avaria na scooter e cai ao ir contra o lancil, num acidente hilariante. E há cenas com uma intensidade à Tommy Wiseau, como a primeira fala de Travolta no filme. A sua personagem entra em cena e apresenta-se com a seguinte linha: tenho de fazer cocó(!!).

The Fanatic é um enorme facepalm, que custa a ver por estarmos sempre a sofrer com vergonha alheia. The Fanatic é um cruzamento entre Plano 9 do Vampiro Zombie e o The Room. É tudo o que podem estar à espera e ainda mais. Com tudo isto, como não ser um Pão com Manteiga?

Título: The Fanatic
Realizador: Fred Durst
Ano: 2019

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *