| CRÍTICAS | Sete Irmãs

Sete Irmãs ambienta-se num daqueles futuros distópicos que fazem as delícias do pessoal que vai ao Boom e diz coisas como “o covid não é o vírus, o vírus somos nós” (vide Earth is Healing meme) e que, por razões obscuras que ainda não consegui alcançar, é o mesmo pessoal que acha que o David Icke é o grande pensador do nosso tempo. Ou seja, é um futuro hipotético em que a população continua a crescer, os GMO vieram suprir a falta de alimentos, as doenças aumentaram por isso e, long story short, a presidente da Federação Europeia (Glenn Close com um aspecto super-plástico(!)) decide implementar a regra do filho único. Para vocês qual destes é o mito urbano mais odiável: o de que a população aumenta exponencialmente até a um esgotamento final daqui a sabe Deus quando? o de que só usamos não-sei-quantos por cento do cérebro e se usássemos todo éramos super-heróis? Ou o de que os GMO fazem cancro, acne e pé-de-atleta?

Tudo isto, despachado num prólogo bem curto, marca então o ambiente de Sete Irmãs que, aliado aos cenários romenos, dão um certo ar de esgotamento e de apocalipse (que lhe fica bem, diga-se). É um estado totalitário, em que a polícia persegue os que não são filhos únicos e os envia para criogenia, enquanto espera por tempos melhores que dê para alimentar toda a gente. E é neste contexto que Willem Dafoe decide criar as 7 netas, gémeas idênticas (mas literalmente idênticas), sob a identidade da mãe falecida no parto – Karen Settman – apesar de lhes ter dado o nome dos dias da semana. Afinal, são sete irmãs, estão a ver?

30 anos depois estão as manas crescidas e são, todas elas, a Noomi Rapace. Para as distinguirmos, cada uma tem um corte de cabelo diferente, que combina com a sua personalidade bem estereotipada. Por exemplo: a loira platinada é a dondoca coleccionadora de homens; a do cabelo curto é a musculosa danada para a porrada; e a despenteada (e, claro, de óculos) é a maluquinha dos computadores. Ou seja, é como as Spice Girls, mas sem cantarem. Como fora de casa, as manas são a mesma pessoa, só pode sair uma por dia. E quando a Segunda-Feira desaparece, as outras seis têm que tentar descobrir o que lhe aconteceu dentro das suas limitações.

A premissa é interessante, mas Sete Irmãs monta tudo da forma mais preguiçosa e derivativa possível. Além disso, não consegue evitar um par de buracos de argumento do tamanho do buraco das finanças do Sporting, principalmente à medida que vai aproximando-se do final. Isso porque o realizador Tommy Wirkola ainda achou por bem criar uma intriga política, com muita corrupção, que só vem criar ruído desnecessário.

Sete Irmãs é melhor quando se mantém simples e directo ao essencial. Ou seja, quando é um filme de acção action driven (e Noomi Rapace é uma excelente heroína de armas), com um par de sequências interessantes; e ou quando se prende nos problemas logísticos das sete irmãs terem que andar na rua só com uma identidade. Entretanto, há de entrar em cena um inesperado aliado masculino, o polícia Marwan Kenzari, que vem introduzir o móbil romântico ao filme, mas que depois acaba por dormir com as irmãs todas como se fossem a mesma. E lá se vai o romantismo pela pia abaixo.

Sete Irmãs é o exemplo perfeito de como uma boa ideia pode ser facilmente desbaratada, feita quase com os pés. Não é entretenimento cem por cento inútil para se jogar fora, mas o Cheeseburger não deixa saudades para se repetir. E ainda por falar em David Icke, que ficou aqui a matutar: como é que é possível levar a sério alguém que defende que somos controlados por reptilíneos?

Título: What Happened to Monday
Realizador: Tommy Wirkola
Ano: 2017

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