| CRÍTICAS | Drácula de Bram Stocker

Desde que os vampiros começaram a usar penteados emo e passaram a ser atormentados pela música dos My Bloody Valentine que o tema deixou de ter interesse. O último bastião de dignidade e bom-senso dessas infames criaturas mortas-viva continua a ser, portanto, a adaptação livre de Drácula De Bram Stoker, o responsável pelo desenvolvimento moderno desse mito literário.

Drácula De Bram Stoker marcou o princípio do fim de Francis Ford Copolla. A partir daí aconteceu à sua carreira o mesmo que aconteceu ao Columbia ao reentrar na atmosfera – começou a desintegrar-se. Por isso, quer se queira quer não é impossível não sentir algo de requiem no filme, que acaba por ser bastante conveniente para o seu ambiente.

Copolla adaptou com grande pompa e circunstância o romance de Bram Stoker, publicado pela primeira vez em 1897, que daria origem ao famoso conde Drácula, sugador de sangue. Homenagenado o cinema de terror do início do século XX – e, inevitavelmente, o incontornável Drácula de Bela Lugosi -, Copolla dispensou qualquer efeito-especial digital e importou uma mise-en-scene e uma direcção de actores quase teatral.

Drácula De Bram Stoker tem assim uma atmosfera romântica e gótica, especialmente enquanto a história se centra na sua Transilvânia natal, que mais tarde iria ser estilizada por Tim Burton. E, apesar de ser um filme de terror, é uma história de amor, ou não fosse o Drácula o maior símbolo de deboche, luxúria e sensualidade que existe.

O conde Drácula (Gary Oldman) é uma alma imortal que amaldiçoou Deus, acusando-o de ser responsável pelo suicídio da sua amada. Agora, caminha errante pelo Mundo, a procura do amor, numa colecção interminável de mulheres (que inclui uma novinha Monica Bellucci). O conde orquestra então um plano maléovolo e desata a comprar propriedades em Londres (tal como Lex Luthor, mais um vilão a atormentar o mundo com diabólicos planos imobiliários) e Keanu Reeves (mais uma vez a fazer o mesmo que faz um pé-de-cabra) é enviado à Roménia para fechar os negócios. Mal sabia ele que lhe ia acontecer o mesmo que lhe aconteceu com o demónio em pessoa em O Advogado Do Diabo.

Na Transilvânia, Drácula De Bram Stoker é um dos melhores filmes de sempre. Um ambiente sombrio, Gary Oldman com um pentado à princesa Leia e efeitos-especiais analógicos transmitem uma inesperada encenação perturbadora. E Copolla vai ainda mais longe que F.W. Murnau e Max Schreck e faz da sombra do Drácula uma personagem com vida própria. Depois a acção muda-se para Londres, o Drácula apaixona-se pela noiva de Reeves (Winona Ryder) e o filme começa a amolecer. Mas antes que se transformasse num chick flick vitoriano (olá Orgulho E Preconceito), Copolla introduz Van Helsing na intriga, saído duma matiné de tarde de domingo,com um Anthony Hopkins que vem dinamitar por completo o protocolo e roubar para o si o resto de Drácula De Bram Stoker.

E como os Royale With Cheese se vêem também nos pormenores, o que dizer do toque de génio de ter Tom Waits no elenco e Lux Interior (sua excelência, o falecido vocalista dos Cramps) a fazer os urros do próprio conde Drácula.

Título: Dracula
Realizador: Francis Ford Coppola
Ano: 1992

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *