| CRÍTICAS | Kung Pow – Punhos Loucos

O cinema de kung fu de Hong Kong é tão vasto, que existem filmes (literalmente) para todos os gostos e feitios, servindo de influência para uma série de cinema de acção que continua a ser feito. No entanto, nunca ninguém teve uma ideia como a de Steve Oedekerk em Kung Pow – Punhos Loucos. O realizador – que também protagoniza – agarrou em Assassinos Selvagens, um título aleatório desse cinema de artes marciais, remontou-o, dobrou por cima os diálogos, colocou-se digitalmente por cima das cenas e filmou outras novas, criando um filme completamente novo.

Assim, Kung Pow – Punhos Loucos é, simultaneamente e em iguais doses, uma paródia ao cinema de kung fu de Hong Kong e uma homenagem, que sublinha a traço grosso as suas principais características: os diálogos dobrados e desfasados (estupidamente exagerados por Steve Oedekerk), os efeitos sonoros que fazem com que cada cena de pancadaria pareça um tiroteio, os zooms rápidos e apertados ou o wi-fu irrealista. No entanto, não se pense que Kung Pow – Punhos Loucos seja algo na esteira dos filmes-paródia tipo Epic Movie ou Scary Movie – Um Susto de Filme, sendo antes uma comédia com um tipo de humor próximo do ZAZ style, ao qual só falta mesmo o Leslie Nielsen (se bem que também existe ali muito a influência de Mel Brooks e das suas paródias a géneros específicos, como Balbúrdia no Oeste fazia ao western).

É certo que há humor escatológico, piadas fáceis e coisas aleatórias como a famosa cena de luta contra uma vaca(!), que ainda hoje vemos ser partilhada em memes na net, mas é no humor absurdo em geral que Kung Pow – Punhos Loucos assenta essencialmente a sua génese. E, claro, aposta tudo numa das mais antigas tradições do humor, cristalizada pelos Monty Pythons em A Vida de Brian: as vozes ridículas. Por isso, sempre que uma das personagens abre a boca, não só a voz não corresponde à pessoa, como o que vai dizer é sempre uma surpresa completa.

Quanto à história, não há muito a dizer. Steve Oedekerk é um lutador exímio e predestinado, o escolhido, que procura vingar-se do homem que matou os seus pais quando era criança. Esse é Mister Pain (Fei Lung), um mauzão senhor feudal com umas garras de metal presas a correntes, que agora se auto-intitula de… Betty. Tudo o resto tem muito pouca história e são só pretextos para o filme ir avançando, com personagens como Wimp Lo (Chia-Yung Liu), um idiota que foi treinado de forma errada só pelo gozo, ou uma tipa com uma mama apenas. Kung Pow – Punhos Loucos McRoyal Deluxe que nos manda desligar o cérebro e apreciar ter 12 anos outra vez.

Título: Kung Pow: Enter The Fist
Realizador: Steve Oedekerk
Ano: 2002

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