| CRÍTICAS | Onde Para o Diabo?

Existem ideias que são tão boas e fortes que são o suficiente para um filme existir. Um filme com uma ideia dessas nem sequer necessita de argumento. É o caso de Onde Para o Diabo?, um dos vários filmes de Leslie Nielsen dos anos 80 que, em Portugal, foram sempre traduzidos como Onde-Para-Qualquer-Coisa (se bem que aqui até têm desculpa, uma vez que até no cartaz Onde Para o Diabo? tenta capitalizar o sucesso de Onde Para a Polícia?).

Onde Para o Diabo? é então um spoof que parodia O Exorcista, lançado poucos meses depois de O Exorcista 3 e com a própria Linda Blair no papel principal. Ela, a possuída original da sétima arte, regressava assim ao seu papel principal e, numa altura em que não havia internet, não só brincava consigo próprio (na altura ainda não havia o conceito meta) como deitava por terra um dos mitos urbanos mais conhecidos do cinema de então: o de que a miúda de O Exorcista tinha mesma sido possuída após o filme e nunca mais feito filmes (se com isso queriam dizer filmes d efeito então até tinham razão).

Em Onde Para o Diabo?, Linda Blair volta a ser possuída pelo demo, que na verdade só que é vingar-se do padre Mayii (Leslie Nielsen). Este já está na reforma (é ele que vai narrando o próprio filme, à medida que dá uma aula na universidade, numa inesperada estrutura narrativa), mas acabará por ter de ir buscar as chutarias ao armário porque o jovem padre Luke Brophu (Anthony Starke) não dá conta do recado. Mas há um plot twist: é que o exorcismo está desta vez a ser transmitido em directo na televisão, uma vez que o Vaticano achou que aproveitar o sucesso dos tele-evangelistas Ned Beatty e Lana Schwab (claramente baseados em Jim e Tammy Baker, numa altura em que ainda não havia o biopic Os Olhos de Tammy Faye e, portanto, ainda ninguém desconfiava deles) iria captar novos fieis para o culto de Cristo.

Onde Para o Diabo? é então uma comédia absurda e muito togue in cheek, que segue o estilo ZAZ (que havia sido lançado precisamente uma década antes com Aeroplano, fechando-se aqui um círculo perfeito de filmes pateta), mas de uma forma mais infantil. Há muito humor físico, trocadilhos fáceis (o nome do padre Mayii vai ser uma fonte constante de piadas), maminhas à mostra à Benny Hill e muitas sugestões sexuais, num filme que, apesar de até ter uma história lá muito ao fundo, acaba por se acomodar à ideia de ter Linda Blair a fazer de possuída outra vez. Por isso, repete a paródia ao vomitado de sopa de ervilhas ad eternum, até porque… graçolas com vomitado têm sempre graça.

Este é um daqueles filmes que dá para ver numa velocidade mais rápida, sem se perder propriamente grande coisa. Talvez valha a pena parar no último acto, quando Leslie Nielsen regressa ao activo e vem exorcizar Linda Blair em directo na televisão, num formato de reality show sensacionalista, narrado em directo por Mean Gene Okerlund e Jesse The Body Ventura(!). É que este é outro dos raros momentos felizes que justificam o Happy Meal de Onde Para o Diabo?.

Título: Repossessed
Realizador: Bob Logan
Ano: 1990

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