| CRÍTICAS | A Sibila

A Sibila, provavelmente o melhor livro de Agustina Bessa-Luís, era uma daquelas obras que toda a gente considerava impossível de adaptar ao cinema. E, como lodosos livros infilmáveis, A Sibila manteve-se longe do grande ecrã até alguém ir lá e faze-lo. Neste caso foi Eduardo Brito, que se estreia aqui na longa-metragem, assumindo sem medos o desafio que lhe fora lançado por Paulo Branco.

A Sibila é a saga de uma mulher do norte do país, Quina (Maria João Pinho), ambiciosa e metódica, que num mundo de homens construiu um legado pessoal e patrimonial considerável, em paralelo com uma carreira de adivinha, que alimentava apesar da fajutice. O filme conta a história dessa mulher desde tenra idade, explicando como uma filha de lavradores ascendeu socialmente contra todas as previsões, terminando com a relação desta com a jovem sobrinha aspirante a escritora (Joana Ribeiro).

É precisamente esta que narra todo o filme, assumindo o papel de narradora e conduzido o espectador ao longo das várias décadas de vida de Quina. Contudo, algo inexplicavelmente, Eduardo Brito deixa-la relaxada para um papel completamente secundário na história, talvez por aparecer apenas no último terço do filme. Eduardo Brito mantém-se sempre muito fascinado pela sibila, ou não dessa ela nome ao filme. A Sibilia é assim uma saga familiar, com uma reconstituição de época impecável e reverência absoluta à palavra de Agustina. De tal forma que o filme limita-se muitas vezes a filmar o que está a ser dito, sendo simplesmente ilustrativo.

A Sibila tem uma dimensão televisiva, quase episódica, que decorre sempre no mesmo tom, sem altos nem baixos. Alguém dizia que Eduardo Brito se tinha enganado e que, em vez de adaptar a obra de Agustina Bessa-Luís, tinha adaptado aquele livrinho amarelo dos resumos da Europa-América. É, por isso, um filme baço, que precisava de um golpe de asa que lhe desse mais brilho. E para os críticos que diziam que Manoel de Oliveira fazia teatro filmado, este Double Cheeseburger está aí para os calar. Basta ir ver Francisca para perceber como filmar Agustina.

Título: A Sibila
Realizador: Eduardo Brito
Ano: 2022

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