| CRÍTICAS | O Homem Duplicado

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Depois de A Jangada De Pedra e Ensaio Sobre A Cegueira, O Homem Duplicado é o terceiro romance de José Saramago a chegar ao cinema. E, depois do desastre que foi aquela produção luso-ibérica no ido ano de 2002, pode-se dizer que as adaptações do Nobel português ao grande ecrã têm vindo a melhorar exponencialmente. Aguardemos então ansiosamente pela próxima.

Mas, para já, falemos deste O Homem Duplicado. Como o título indica (o do livro, já que o original do filme – Enemy – é extremamente vago (e extremamente é favor), estamos perante mais uma das mil variações do doppelganger, um dos mais fascinantes temas da literatura (e não só, o Polanski que o diga). Ou seja, um pacato professor de história (Jake Gyllenhaal) descobre um duplo de si ao ver um filme manhoso na televisão e, à medida que vai investigando mais sobre o homem, mais surpreso vai ficando com as semelhanças.

Mais do que fascinante, o doppelganger é deveras perturbador. Porque a última pessoa que estamos à espera de encontrar na rua é um sósia de nós próprios. Até a Heidi Klum a vaguear nas ruas de Freixo de Espada à Cinta é mais provável. E, na presença de um duplo, só um pode sobreviver, o que significa que alguém terá de ser eliminado. Isto explica o clima de paranóia que vai crescendo em #####, como uma panela de pressão prestes a rebentar.

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Mas o realizador Denis Villeneuve sabe como maximizar este ambiente e fá-lo com um filme sensorial, quase fantasmático, onde o real se mistura com a fantasia, quase ausente de diálogos, aumentando a confusão. É que, às tantas, deixamos de perceber o que é verdade ou não, já que O Homem Duplicado não deita nenhuma âncora que nos permita uma assimilação confortável do que estamos a ver. E depois existem as aranhas. Gigantes, com pernas longas à Dali, com corpo de mulher… Muitas aranhas, com uma clara carga simbólica, e que deixam o final em aberto a múltiplas interpretações.

O Homem Duplicado entra assim em inesperados territórios à David Lynch. E, como nos melhores filmes deste, por vezes não percebemos o que estamos a ver, mas temos sempre a impressão de que é algo importante que não podemos perder. E isso é bom e uma das melhores sensações deste McRoyal Deluxe.mcroyal-deluxeTítulo: Enemy
Realizador: Denis Villeneuve
Ano: 2013

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