Jack é um daqueles títulos proibidos de serem mencionados por qualquer cinéfilo que se preze, já que é o filme maldito de Francis Ford Coppola, que toda a gente quer esquecer que existe. No entanto, apesar de não ter nada a ver, o título até fica bem a este desconhecido filme alemão, já que, à sua maneira, também é sobre um miúdo que tem que crescer demasiado depressa.
Mas se queremos fazer comparações, é inevitável colocar não falar de Ninguém Sabe para nos referirmos a Jack. Pela temática e pela forma. Enquanto que o filme japonês era baseado no caso verídico de uma mãe que abandonou quatro filhos num apartamento ao deus-dará, este é sobre uma mãe inconsciente que deixa os filhos sozinhos enquanto passa dias e dias na pândega. E isto faz com que Jack (genial Ivo Pietzcker), o mais velho, tenha que crescer e ser o responsável lá de casa.
No entanto, mais do que um drama familiar sobre o abandono e seus derivados, Jack é uma história sobre determinação e força de vontade. Jack irá fugir da instituição de acolhimento onde acaba por ir parar e, depois de ir buscar o irmão, vai procurar a mãe até às últimas consequências. E chega a um ponto em que estamos esgotados, tanto física quanto psicologicamente, com Jack a andar, a subir, a descer, a correr, a trepar… E a sua mãe sem aparecer, num processo que chega a ser angustiante.
Tal como Ninguém Sabe, Jack também é um filme quase circunstancial, feito de silêncios e de observações. Faz lembrar igualmente o estilo neo-realista dos irmãos Dardenne (alguém mencionou A Criança?), na medida em que segue os seus actores quase como aquele cinema-verdade que agora está muito na moda. Podia ter menos 15 minutos? Podia, mas isso não altera nada este suculento McBacon, que vale a pena descobrir.
Título: Jack
Realizador: Edward Berger
Ano: 2014