Amado por uns e detestado por outros. Xavier Dolan tanto é apelidado de prodígio pelos grandes festivais deste mundo fora, arrecadando Palmas de Ouro ou Césares, como é carimbado com o título de fraude pela outra metade da crítica, como se vê pela quantidade paupérrima de estrelinhas que os seus trabalhos arrecadam na maioria dos jornais portugueses. Dolan é que se mantém indiferente a tudo isto, continuando a filmar ao ritmo de um filme por ano, imperturbável do alto dos seus 27 aninhos (ninguém tem 27 anos!), enchendo a conta bancária e construindo uma filmografia considerável e respeitável.
Em Tão Só o Fim do Mundo, Dolan reúne um leque de actores de primeira água, para adaptar a peça de teatro homónima de Jean-Luc Lagarce: Vincent Cassel, Gaspard Ulliel, Léa Seydoux, Marion Cottilard e Nathalie Baye. É, portanto, um filme de actores, sobre o retorno de um jovem (Ulliel) a casa, 14 anos depois de ter saído para a grande cidade, para um almoço de fim-de-semana. O que o espera só pode ser uma de duas hipóteses: o regresso do filho pródigo ou um jogo de massacre.
Por acaso, Dolan deveria ter visto O Deus da Carnificina antes de se atirar a Tão Só o Fim do Mundo, para perceber como construir as dinâmicas entre um grupo reduzido de actores e todas as suas disfuncionalidades. A sua solução é filmar todo o filme com grandes-planos, aproximando-nos dos actores e fazendo-nos ouvir as suas respirações, ver os seus esgares e sentir o seu suor, numa tentativa bem sucedida de nos deixar desconfortáveis. No entanto, esse desconforto depois não é correspondido pelo jogo de carnificina dos actores.
O primeiro problema de Tão Só o Fim do Mundo é que as personagens parecem sempre deslocadas. Léa Seydoux nunca convence no papel de pita dramática, com aqueles desenhos fatelos pendurados na parede do quarto. Ainda este ano a vimos como bond girl, é impossível agora acreditarmos nela no papel de drama queen. Vincent Cassel tem aqui um dos seus piores papeis de sempre, não se percebe se por condicionantes do argumento, se por culpa própria. O que é certo é que passa o filme todo a gritar, inclusive quando lhe perguntam simplesmente se quer um copo de água. E, no meio desta histeria toda, Marion Coutillar acaba por desaparecer, engolida pelo chinfrim.
Nathalie Baye é quem se destaca então no filme, sendo responsável por alguns dos melhores momentos do filme. É que, apesar da tendência de por vezes se perder por aquele género de anúncio de perfume altamente estilizado, Xavier Dolan é um tipo com talento e com boas ideias, que sabe filmar muito bem e que, às vezes, apetece estar a ver apenas pelo simples prazer de olhar. Ou seja, isto para dizer que Tão Só o Fim do Mundo não desperdiça totalmente a oportunidade de fazer um grande filme. Encomenda tão só e apenas um simpático McChicken.Título: Juste la fin du Monde
Realizador: Xavier Dolan
Ano: 2016