| CRÍTICAS | A Vida de Brian

Depois do sucesso de Monty Python e o Cálice Sagrado, o grupo não só se consolidou como o maior e o mais importante colectivo humorista da Inglaterra e arredores, como ganhou o legítimo direito de gozar com qualquer assunto que quisesse. Por isso, não foi de admirar que o seu projecto seguinte fosse A Vida de Brian, derradeira sátira sobre a religião, o cristianismo e a vida de Jesus Cristo. Claro que o filme acabou banido em vários países (na Noruega, por exemplo, o que levou a sua vizinha Suécia a publicita-lo como o filme tão divertido que os noruegueses até o baniram, num raro caso de humor sueco), o que apenas ajudou a consolidar o seu estatuto de obra ímpar na história da comédia.

Assim, 4 anos após a busca pelo Santo Graal, os Monty Python foram à procura da Terra Santa. No entanto, como ficava muito caro ir até Jerusalém, aproveitaram as sobras dos cenários de Jesus Da Nazaré e viajaram para a Tunísia, dividindo entre si a maioria das personagens do filme (há ainda cameos do beatle George Harrison e do comediante Spike Milligan, tendo Keith Moon morrido afogado no seu próprio vómito antes de poder participar e George Lazenby não ter tido disponibilidade de agenda para fazer de Jesus Cristo em pessoa) e entregando a realização, exclusivamente, a Terry Jones, de forma a evitar os atritos com Terry Gilliam, como havia acontecido durante a parceria de ambos em Monty Python E O Cálice Sagrado.

Numa variação da história da Natividade e de Jesus Cristo, Brian (Graham Chapman) é um judeu da Galileia, que fica logo fadado a um destino messiânico quando os três reis magos se enganam no estábulo no dia do nascimento do menino Jesus. Depois, junta-se à resistência judaica contra a ocupação romana, porque os romanos nunca fizeram nada por nós, excepto as estradas, a saúde pública, a educação, o saneamento básico e a paz, torna-se profeta por acaso (aconteceria o mesmo a Jeff Goldblum no genial e subvalorizado The Favour, The Watch And The Very Big Fish) e acaba pregado a dois pedaços de pau, num momento inesquecível em que todos os crucificados cantam aquela clássica canção, Always Look At The Bright Side Of The Life.

A Vida de Brian é uma paródia acutilante aos filmes bíblicos (e começa logo por destroçar essa solenidade com Terry Gilliam enquanto mãe de Brian e a maioria das personagens a fazerem vozes e sotaques esquisitas – alguém mencionou Pilatos com dificuldade em dizer os éles?), mas é, sobretudo, uma sátira inteligentíssima não só à religião e ao cristianismo, mas também à fé. A Vida de Brian pode não ser tão imediato quando o humor de Monty Python E O Cálice Sagrado, mas não há nenhuma cena em que o humor não seja requintado, subversivo e/ou subliminar.

Mas isso não significa que não haja sillyness, absurdo e non-sense, imagens de marca do grupo inglês, como aquela sequência em que uma nave espacial passa pelo filme(!). E cenas como Pilatos a discursar com o seu grande amigo, Biggus Dickus(!), perante uma plateia de judeus e soldados romanos a rirem a bandeiras despregadas, são míticas. Além disso, mostram-se ainda seguros ao brincar com as limitações do orçamento e do cenário, aproveitando esse percalço para mais uma ferramenta humorística.

Portanto, A Vida de Brian não é apenas o melhor filme dos Monty Pythons, é também a melhor comédia de todos os tempos d.C. E, como acontece neste imodesto antro cinematográfico sempre que qualquer filme é superlativado, esta prosa opinativa termina com um Royale With Cheese.Título: The Life of Brian
Realizador: Terry Jones
Ano: 1979

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