| CRÍTICAS | Elis

No Brasil dá-se um pontapé numa pedra e saem lá debaixo quatro jogadores de futebol e dois músicos. Podia alargar o estereótipo, mas fiquemos por estes dois. Enquanto que no caso dos futebolistas existem contentores de jogadores sobrevalorizados (ou simplesmente maus), no caso dos músicos o cenário já é um pouco mais diferente. É que mesmo no caso dos maus estes parecem sempre ter um certo refinamento. Isto deve-se, sobretudo, ao facto do Brasil ter tanta música boa e variada: bossa nova, samba, MPB, tropicalismo… A lista é imensa.

E, mesmo no meio de tantos e tantos nomes, somos capazes de superlativar alguns. E um deles é o de Elis Regina, uma das maiores vozes feminina da música brasileira, fundadora da MPB e um génio inversamente proporcional ao seu tamanho (conta que tinha apenas um pouco mais de metro e meio). Por isso, numa altura que o cinema brasileiro tem prestado atenção ao biopic (de personalidades tão diferentes, quanto Chico Xavier a Tim Maia), não foi de estranhar que chegasse Elis, filme biográfico da cantora de Águas de Março.

A Globo reuniu então o financiamento, chamou o realizador Hugo Prata e escolher Andreia Horta para protagonista. Tudo parecia bem, até que chegou ao dia de iniciarem as filmagens e lembraram-se que se haviam esquecido de escrever o argumento. Assim, alguém foi muito rapidamente à wikipedia, imprimiu a entrada relativa à Elis Regina, riscou meia dúzia de coisas e… voilá, estava pronto o guião de Elis. Não sei se foi mesmo assim que se passou, mas esta é a única justificação possível para explicar este filme.

Elis é então um encadear de episódios mais ou menos desconexos sobre a vida e obra de Elis Regina, ignorando o seu início de carreira sobre a alçada do pai e saltando de um ponto para outro sem qualquer contextualização possível. Existem os problemas com a ditadura militar, a relação tumultuosa com o seu primeiro marido, Ronaldo Boscôli, ou mesmo a tentação do álcool e das drogas (quer dizer, estas nunca são referidas, mas sim sugeridas) que levaram ao desaparecimento precoce da cantora, mas é tudo floreado pela rama, como uma biografia para totós. A última fase da sua vida, caída em depressão e afogada em comprimidos, é particularmente vaga, saltando de uma cena em que está tudo bem e em que Elis anuncia que está grávida do seu segundo filho para uma em que já Maria Rita, a terceira filha, é grande e Elis está deprimida com a vida e a música só porque sim.

Elis salva-se então pela música e pela prestação de Andreia Horta, que se entrega inteirinha a este tour de force a solo. Esforço inglório para um Happy Meal que pretendia ser uma homenagem a alguém que é um Royale With Cheese daqueles com pouca comparação.Título: Elis
Realizador: Hugo Prata
Ano: 2016

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