| CRÍTICAS | Descarrilada

Judd Apatow estebeleceu-se como um dos mais interessantes nomes da comédia da actualidade em Hollywood com um tipo de filmes que são uma espécie de chick flicks para gajos. Filmes como Virgem aos 40 Anos ou Um Azar do Caraças são o equivalente das comédias românticas, mas direccionadas para o homem comum, falando dos mesmos temas (amor, romance, relações, família, carreira…), mas com um enfoque diferente, com mais testosterona.

Descarrilada, o seu último trabalho na cadeira de realizador, é o seu primeiro chick flick, ou não tivesse Amy Schumer – a grande revelação do humor feminino dos últimos tempos (de sempre?) – como protagonista. No entanto, fá-lo como se estivesse a fazer um dos seus filmes com e para homens. Ou seja, mete as mulheres a falar dos mesmos temas, porque na vida real elas também falam de sexo, de relações e de coisas escatológicas. E, por favor, não vamos falar de O Sexo e a Cidade, ok? Por isso, Descarrilada é também um filme emancipado, cheio de girl power, sem ser paternalista para com o sexo fraco, como o é esta última frase.

Amy (a própria Amy Schumer, que escreveu o argumento com base em alguns pontos da sua vida) é uma mulher jovem e independente, que trabalha numa revista feminina daquelas que eu nunca percebi sobre o que escrevem (tipo a Happy) e que tem pavor ao compromisso. Apesar de ter uma espécie de relação com John Cena (que tem algumas das melhores cenas do filme, com uma virilidade musculada altamente gay), Amy vai-se enrolando aqui e ali com uns tipos, mas sem nunca se prender a ninguém. No fundo, é um reflexo do exemplo paternal que teve em casa e que é condensado pelo flashback que abre o filme, em que o seu pai explica que se vai divorciar da mãe e utiliza uma analogia perfeita com as bonecas da filha. Até que conhece um cirurgião de estrelas do desporto (Bill Hader), cujo melhor amigo é um mui sensível LeBron James, e, claro, acaba por se apaixonar e repensar a sua vida.

Portanto, Descarrilada é, no fundo, mais uma comédia romântica, que termina com o habitual e viveram felizes para sempre, depois de Amy conquistar Hader numa rotina que não tem nada do girl power do resto do filme (uma rotina com as cheerleaders dos New York Knicks). No entanto, o trunfo do filme é o humor circunstancial de Apatow, as situações embaraçosas do dia-a-dia e, especialmente, os diálogos realistas e naturais. Por isso, Descarrilada não é a comédia romântica tradicional sobre cavaleiros que vêm em cavalos brancos resgatar a mocinha em apuros, mas sim uma comédia romântica sobre a vida como ela é, cheia de personagens de carne e osso e com quem nos é possívelidentificarmos e mesmo convidar para ir jantar um McChicken.Título: Trainwreck
Realizador: Judd Apatow
Ano: 2015

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