Primeiro foram os russos. Depois os alemães. Entretanto tivemos os sérvios. E agora são os muçulmanos os inimigos favoritos de Hollywood. Ainda por cima, temos a ajudar a isto todo o discurso autoritário e a paranóia securitária que os governos ocidentais têm adoptado, mesmo que estudos como este digam que há vinte ou trinta anos atrás se morria mais com o terrorismo do que hoje. Enfim, ninguém quer saber. E, enquanto isso, os muçulmanos lá vão dando uns inimigos do caraças para temermos.
Conspiração Terrorista (a tradução portuguesa mais preguiçosa do século XXI) é então a história de uma agente especial da CIA, Alice, (Noomi Rapace), que se afasta das lides no terreno por não conseguir lidar com um complexo de culpa após um atentado em Londres. No entanto, quando é chamada de urgência para interrogar um suspeito terrorista, Alice vai ser engolida por uma complexa intriga internacional, que envolve imãs radicais, as agências de inteligência americana e inglesa, o Michael Douglas e um evento com muitos americanos em Londres que ninguém sabe qual poderá ser (se bem que, dias depois, haverá um jogo de futebol americano em Wembley(!)).
Estamos então em terrenos dignos de um James Bond, com espiões, intrigas, suspeitos, terrorismo e muita informação e contra-informação na ordem do dia. Aliás, o realizador Michael Apted – um daqueles tarefeiros de Hollywood capazes de fazerem muita coisa, mais ou menos anónima mas com grande eficácia, que começam a rarear – tem ele próprio um filme do 007 na currículo (olá XX). No entanto, não era necessário um caderno de encargos tão grande para uma história com tão pouca imaginação. A personagem de Orlando Bloom, por exemplo, é completamente metida a martelo e ainda hoje os argumentistas se devem estar a rir disso.
Então porque é que Conspiração Terrorista se vê sem sem fastio? Porque Noomi Rapace continua a assumir-se como uma das grandes actrizes de acção que vimos nos últimos tempos, porque há o savoir faire de John Malkovich e por… bem, por mais nada. O último terço chega mesmo a ser aborrecido. Um Double Cheeseburger que, em breve – e nas melhores das hipóteses -, estará condenado às tardes televisivas de fim-de-semana.Título: Unlocked
Realizador: Michael Apted
Ano: 2017