Na tentativa desesperada de encontrar alguma coisa que fizesse concorrência ao monopólio do universo de super-heróis da Marvel no mundo dos blockbusters, a Universal decidiu ressuscitar o seu universo dos monstros, que fizeram as delícias doo cinema de horror do período clássico de Hollywood – a múmia, o drácula, o homem-invisível… Ou seja, uma opção que tem tudo para correr mal. No entanto, como sou um tipo optimista e gosto sempre de ver o copo meio cheio, quis acreditar que isto poderá correr bem. Até porque a Universal parece estar a querer potenciar ao máximo o factor entretenimento destes filmes-pipoca (a única forma de os fazer valer a pena) ao enche-los de grandes nomes do star system actual: Tom Cruise, Russel Crowe, Johnny Depp…
Os primeiros vinte minutos de A Múmia parecem confirmar estas minhas previsões. Depois de despachar a origem da múmia (a bela Sofia Boutella, cheia de hieróglifos no corpo) num prólogo rápido ainda antes dos créditos iniciais, o filme arranca a grande velocidade, com Tom Cruise e Jake Johnson a serem caçadores de tesouros em pleno Iraque, a desafiarem o Daesh para descobrirem artefactos mesopotâmicos que possam vender no mercado negro. Uma espécie de Indiana Jones com mais fogo-de-artifício, algures entre o filme de acção bem-disposto e a comédia do buddy movie.
Depois entra em cena a também muito bela Annabelle Wallace (a quem, estranhamente, ainda ninguém foi desenterrar as suas raízes em Portugal), que introduz no filme uma química screwball que também cola bem ao ritmo despachado deste início de A Múmia, e Tom Cruise liberta a múmia, o tal monstro milenar, que vai ameaçar destruir o mundo como nós o conhecemos e que os nossos heróis vão ter de impedir. E a partir daqui, A Múmia é sempre a descer.
As boas intenções do início do filme desaparecem, não por falta de interesse por parte do realizador Alex Kurtzman, mas porque começam a ficar afogadas na habitual sisudez dos blockbusters actuais, que teimam em se levar demasiado a sério, apesar de serem filmes sobre múmias egípcias semi-deusas que querem destruir a humanidade ou outros monstros fictícios que tal. Ou seja, a suspensão da crença torna-se cada vez mais difícil de acreditar, porque é forçada uma trama dramática em que ninguém acredita (ou quer saber), sustentada não por personagens ou por um argumento forte, mas por muito CGI, explosões, efeitos-especiais e masturbação digital. E, claro, os habituais vinte minutos do Tom Cruise a correr (e, aqui, uma novidade: Tom Cruise a nadar!).
Assim, é desaproveitada, por exemplo, uma sequência brilhante em ambiente de quase gravidade zero, num avião que cai a pique, entre Tom Cruise e Annabelle Wallace, por exemplo. E é esprimido ao limite a presença completamente desnecessária de Russell Crowe, na pele do doutor Jekyll, cuja única razão para aparecer no filme (e para lutar com Tom Cruise numa cena com tanto de ridícula quanto de gratuita) é para introduzir o tal universo dos monstros da Universal e fazer a ponte com o próximo filme.
Com A Múmia tem duas hipóteses: ou vê a primeira meia-hora e sai da sala após a acção passar do Egipto para Inglaterra, ficando com a melhor das impressões do filme de Alex Kurtzman. Ou aguenta até ao final e assiste ao desastre completo do filme até à irrelevância final, levando para casa um Cheeseburguer que, no fundo no fundo, até nem é tão má recompensa quanto poderia ser.Título: The Mummy
Realizador: Alex Kurtzman
Ano: 2017
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