| CRÍTICAS | Super Dark Times

O filme de aventuras com miúdos é um subgénero com tradição nos anos 80, misturando em doses iguais nostalgia, espírito feelgood e cinema de entretenimento de qualidade. Nos últimos tempos, têm havido algumas tentativas pontuais de o reavivar ou de lhe prestar tributo (alguém mencionou Super 8 ou o Stranger Things?). E, curiosamente ou não, todos eles se passam também na década de 80. Até que chega Super Dark Times, o primeiro filme de aventuras adolescente passado nos anos 90.

Continuam a estar presente os elementos característicos desse subgénero: as bicicletas (sempre omnipresentes), os walkmans… Mas subtilmente lá está Bill Clinton na televisão, a datar muito bem aquela realidade temporal. E faz diferença essa mudança dos anos 80 para os 90? Absolutamente nenhuma. Mas não deixa de ser curiosa. E mostra como Super Dark Times não é apenas um exercício de regurgitação nostálgica.

Estamos então na suburbia norte-americana, território por excelência destes filmes, onde a normalidade se confunde com aborrecimento. Para enganar o tédio, quatro amigos (Owen Campbell, Charlie Tahan, Max Talisman e Sawyer Barth) encontram-se depois das aulas, para falarem de miúdas (especialmente de Allison (Elizabeth Cappuccino)), comerem porcarias e terem descanso dos seus bullys. Depois, insere-se uma espada samurai na equação e teremos desgraça na certa.

Super Dark Times não é um filme de aventuras de miúdos como Os Goonies, por exemplo. Aqui, a referência mais próxima será, possivelmente, Conta Comigo, já que é também a presença de um cadáver que vai despoletar todo este coming of age. Há quem apelide Super Dark Times como o Donnie Darko do nosso tempo e a comparação não é descabida. É que o ambiente de ambos é semelhante: fantasmático, quase surreal, com uma costela lynchiana (se bem que a suburbia de David Lynch é sempre uma máscara de normalidade, enquanto que aqui essa é transformada pela tal tragédia que afecta o grupo), explorada de forma quase minimalista pelo realizador Kevin Phillips.

É esse tom meio onírico que dá tom a Super Dark Times e o ajuda a subir um nível na escala de perturbação e inquietude. Enquanto os jovens procuram lidar com aquele episódio de formas diferentes (Owen Campbell reprimindo-o e Charlie Tahan expressando-o ainda com mais força), Kevin Phillips pega em toda aquela teenage angst e canaliza-a para uma redenção final que vai deixar mossas. É certo que tropeça um pouco nos próprios pés na resolução desse acto final, mas Super Dark Times é o melhor filme de adolescentes desde há muito tempo. E isso é já muito a dizer sobre este Le Big Mac.Título: Super Dark Times
Realizador: Kevin Phillips
Ano: 2017

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