| CRÍTICAS | The Bad Batch – Terra Sem Lei

O filme anterior de Ana Lily Amirpour, Uma Rapariga Regressa de Noite Sozinha a Casa, era um pequeno filme independente e super-curioso, sobre vampiros no Irão, rock’n’roll e skaters. Não admira que tenha formado um micro-fenómeno que transbordou, inclusive, do circuito indie. O que ninguém estava à espera era que a realizadora desse um salto tão grande para este seu próximo título, num filme com um elenco recheado de estrela como Jim Carrey, Keanu Reeves, Diego Luna ou Jason Momoa.

Estamos então num futuro distópico, mas aparentemente não muito longínquo. Para o deserto norte-americano são atirados todos os rejeitados da sociedade, formando uma comunidade auto-suficiente que vive de despojos, no meio de pó, muito pó. Há tanto pó em The Bad Batch – Terra Sem Lei que, quando termina o filme, saímos da sala a tossir e com uma secura na boca que nem vos digo nada. Essa comunidade é conhecida pelo lote mau (o bad batch do título), mas nem todos se dão bem lá dentro. É que de um lado há uma tribo de canibais; e da outra uma tribo de ravers(!), liderada pelo Dream (Keanu Reeves de bigodaça texana imponente).

Conhecemos então Arlen (Suki Waterhouse), uma miúda que acaba de ser atirada pelas autoridades para o lote mau e que vai ter encontros imediatos com ambas as tribos. Os primeiros serram-lhe logo uma perna e um braço, deixando-a no estado ideal para uma sequela do Planeta Terror; e os segundos adoptam-na, dentro daquilo que se pode chamar de vida pacífica no meio daquele deserto de lixo, resíduos tóxicos e, claro, muito pó.

Tal como em Uma Rapariga Regressa de Noite Sozinha a Casa, o western (o spaghetti, nesse caso, e Corbucci em particular) volta a ser uma influência decisiva, num mash-up de estilos e géneros que também já acontecia no filme anterior. Sinal dos tempos, desta geração de millenials e da era da informação, que compila, absorve e regurgita tudo, sem sequer mastigar ou assimilar grande coisa. Apesar de já não ser a preto e branco, The Bad Batch – Terra Sem Lei continua a ser um filme bastante contemplativo, com poucos diálogos (Jim Carrey passa o filme inteiro sem dizer sequer uma palavra), completamente impregando de cultura pop. E hey, há aqui mais um indício de que o revival dos anos 90 está quase a acontecer, com os Ace of Base a surgirem na banda-sonora (e que banda-sonora, senhores!).

Os primeiros 15 minutos são a melhor coisa que Ana Lily Amirpour já fez na sua curta filmografia de dois títulos. De forma silenciosa, conhecemos Arlen, vemo-la a entrar no lote mau, é capturada e serrada e escapa de forma violenta, com toques de exploitation dos anos 70. E depois? Depois parece que Amirpour não tinha mais filme e se limitou a ir ao sabor do vento. The Bad Batch – Terra Sem Lei é um espécie de história de amor proibida, entre Arlen e Jason Momoa – com um sotaque cubano ridículo -, ele que faz parte da tribo inimiga dos canibais. Tudo isto é assim meio aparente, dito por meias palavras, da mesma forma que a forma envergonhada como Momoa revela que foi parar ao lote mau  por ser um imigrante sem papéis soa a oportunismo mais ou menos barato para fazer uma crítica social forçada.

Depois há Keanu Reeves e Jim Carrey em papéis irreconhecíveis (o segundo então pode passar o filme todo despercebido se não soubermos do que estamos à procura) – o primeiro rodeado de parideiras de metralhadora, o segundo enquanto um mendigo que faz a ligação entre ambas as tribos -, mas que, apesar da sua dedicação à causa, parecem apenas marcadores espalhafatosos num filme que se vai esvaziando rapidamente de significado como um balão furado. Comparar o anterior Uma Rapariga Regressa de Noite Sozinha a Casa com este Cheeseburger faz-nos chegar a uma triste conclusão: o passo foi maior que a perna neste salto para o segundo filme. Título: The Bad Batch
Realizador: Ana Lily Amirpour
Ano: 2016

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