| CRÍTICAS | Wiener-Dog – Uma Vida de Cão

Todd Solondz é aquele tipo que, quando vê alguém com uma ferida, vai lá com um pau espetar e escarafunchar ainda mais. Tem sido assim desde o magnífico Felicidade, o seu primeiro filme, e isso tanto pode se tornar perturbador quanto assustador, depende apenas o quanto nos identificamos com aquelas nódoas negras sentimentais.

Wiener-Dog – Uma Vida de Cão é um filme-mosaico com quatro histórias que têm como ponto em comum um dachshund, espectador privilegiado (e passivo, exceptuando primeiro segmento – que é também o melhor, curiosamente) do espectáculo humano da baixa estima, insociabilidade, depressão e outros comportamentos sociais mais ou menos desviantes.

O humor de Todd Solondz é tão negro que faz o Sinel de Cordes (quem?) parecer um tipo normal. E, ao mesmo tempo, é irónico e auto-depreciativo, como a história sobre o falhado argumentista de cinema (interpretado por Danny DeVito, cada vez mais à vontade neste registo), ou os seus alunos que desprezam o Seinfeld e o Calma, Larry, que no fundo são o tipo de humor do próprio Solondz. No entanto,Wiener-Dog – Uma Vida de Cão também consegue ser assustador, porque muitas vezes, quando mostra o pior do ser humano, Solondz apenas se limita a colocar-nos um espelho à frente. E assustamo-nos porque não nos queremos reconhecer naquele reflexo.

À medida que o dachshund vai perdendo influência nas histórias, Wiener-Dog – Uma Vida de Cão também se vai desvanecendo e perdendo interesse. Aliás, o cão só está lá para haver um pretexto comum aos quatro segmentos, até porque os últimos dois nem sequer têm continuidade com os anteriores. É, por isso, um filme quase artesanal, menor. E apesar de se ver sem fastio, não traz muito mais a vida do que um Cheeseburger.

Título: Wiener-Dog
Realizador: Todd Solondz
Ano: 2016

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