| CRÍTICAS | Victoria e Abdul

O realizador Stephen Frears já te tinha atirado à família real inglesa antes – com o biopic da rainha Elizabete II sobre o day after à morte da princesa Diana, em 1997 (mas que continua a parecer que foi ontem), pertinentemente chamado A Rainha. Também Judi Dench já tinha feito de rainha Victoria, em Sua Majestade, Mr. Brown, sobre a sua relação com John Brown após a morte do seu marido, príncipe Alberto. Por isso, este Victoria e Abdul não pode deixa de soar a reprise. Porque Dench volta ao mesmo papel da rainha que então era a monarca com mais tempo no trono de sempre e Frears volta à Casa Real britânica.

Victoria e Abdul passa-se então depois de Sua Majestade, Mr. Brown, já na recta final da rainha Victoria. A monarca, já octagenária, apurara o seu feitio rezingão, cansada daquela vida protocolar e onde toda a gente usava máscaras. Por isso, quando entra na sua vida um jovem e espadaúdo empregado indiano, Abdul (Ali Fazal), caído de pára-quedas em Londres vindo de Agra para presentear a rainha com uma medalha especial por ocasião do seu Jubileu de Ouro, uma lufada de ar fresco vai revitaliza-la. E uma imprevista amizade floresce entre os dois, contra toda a restante Casa Real, estupefactos por a rainha se dar com um tipo escurinho da plebe e por este lhe andar a ensinar urdu e o Corão.

Victoria e Abdul é então a versão real de Amigos Improváveis (e inspirada em factos reais) – a história comovente de como a amizade suplanta qualquer estereótipo ou ideia pré-concebida, não conseguindo evitar aquele fascínio pelo exótico do bom selvagem que vem para a civilização e que acaba por ensinar mais do que aprende. E, tal como o filme francês, também Victoria e Abdul não escapa ao filme de domingo à tarde, para toda a família, com bom coração e ainda melhores intenções.

A diferença é que Victoria e Abdul tem Stephen Frears na cadeira de realizador, que não se limita a seguir o filme de prestígio de tradição inglesa. Aliás, tal como a rainha e o seu novo amigo indiano se divertiram a mandar às urtigas o protocolo, também Frears vai estilhaçando os cânones do realismo britânico, com um savoir faire elegante, que vai tirando um ou outro plano mais imprevisto ao mesmo tempo que se aproveita dos grandes planos para se aproximar da intimidade de Judi Dench ou Ali Fazal.

Mas Frears também não arrisca muito e limita-se a seguir a maré, contentando-se com aquela história de amizade e aflorando só pela rama os jogos de bastidores da Casa Real ou algumas dúvidas mais misteriosas sobre as reais intenções daquele indiano que, afinal, não era quem dizia que era. Obviamente que ver Victoria e Abdul não custa nada, até porque a própria Judi Dench, também ela já octagenária, torna tudo demasiado fácil. Mas já vimos este filme quantas vezes antes? O Cheeseburger peca assim por repetição.Título: Victoria and Abdul
Realizador: Stephen Frears
Ano: 2017

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