| CRÍTICAS | Esquecido

Vai haver um dia, quando Tom Cruise morrer ou for já muito velhinho, que os seus filmes de acção vão ganhar uma palavra para o descrever e adjectivar. É que os seus filmes de acção são já eles próprios todo um programa, em que Cruise faz de si mesmo, o all american hero que faz as suas próprias acrobacias, sempre com um sorriso na cara e uma one-liner na ponta da língua, enquanto salva o país/planeta/universo e corre, corre mesmo muito. Por falar nisso, já viram aquele vídeo que tem todos os segmentos do Tom Cruise a correr no cinema? Então vejam.

Esquecido será o exemplo máximo deste cinema de acção com Tom Cruise. Porque, além de ser praticamente o único actor durante a maior parte do filme, existe mais do que um Tom Cruise. Como se  realizador Joseph Kosinski tivesse escrito Esquecido com o intuito de esticar este conceito até aos limites do razoável.

Estamos então num futuro em que a Terra foi destruída por uns invasores alienígena e toda a humanidade fugiu para Titã, uma das luas de Saturno. Tom Cruise e Andrea Riseborough são os dois únicos humanos que restam, mantendo uma estação de energia que abastece a tal colónia terráquea em Titã. No entanto, enquanto Tom Cruise anda lá fora a reparar uns drones e a ter que despachar uns invasores errantes que ainda sobrevivem, Andrea Riseborough fica por casa, a comunicar com Titã e a cozinhar. Até no futuro distópico a sociedade é machista.

Os primeiros 20 minutos são então o melhor de Esquecido, com Tom Cruise a vaguear pelas paisagens de uma Terra em ruínas, em modo quase contemplativo (não vou referi Tarkovsky porque seria abusivo), enquanto se vai refugiar numa mancave que construiu à beira de um lago, a ouvir vinis e a pescar. E, depois, eis que surge uma ameaça, que além de revelar um muito breve Morgan Freeman – cujo primeiro plano surge envolto nas sombras, qual Capitão Kurtz do Apocalypse Now, enquanto último resquício da humanidade – que vem destapar algo novo.

Infelizmente, o que estava tapado era então apenas mais um filme de acção, mais musculado do que seria de imaginar, em que as poucas personagens secundárias são apenas meras desculpas para o show a solo de Tom Cruise. Mais pirueta, menos pirueta, vai tudo dar ao blockbuster anónimo de ficção-científica, que não acrescenta nada de mais ao mundo do cinema do que um ligeiro Cheeseburger. O título de Esquecido podia dar para tantos trocadilhos, mas prometo que não vou fazer nem um.Título: Oblivion
Realizador: Joseph Kosinski
Ano: 2013

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *