| CRÍTICAS | Chappie

Depois do pouco entusiasmante Elysium, Neill Blomkamp resolveu voltar a baralhar e dar de novo. Para isso, regressou às origens, ou seja, à sua África do Sul natal, e realizou Chappie, mais um pouco habitual blockbuster ambientado nas ruas de Joanesburgo. E desta vez pode não haver uma metáfora ao apertheid e à sua sociedade segregadora, como havia em Distrito 9, mas há muita cultura zef, a sub-cultura urbana xunga e de gosto duvidoso da África do Sul, ou não fossem os Die Antwoord – expoentes máximos deste estilo – os protagonistas.

O crime em Joanesburgo está então em altas e as autoridades, provavelmente depois de verem o RoboCop – O Polícia do Futuro, decidem fazer o mesmo que Detroit e contratam uns polícias-robots. Tudo corre mais ou menos bem até que um protótipo com inteligência artificial é raptado pelos Die Antowoord, o equivalente sul-africano dos gunas de Balas & Bolinhos, e vai ser ensinado por eles.  É que Chappie, o tal robot (Sharlto Copley), é como uma criança grande e vai ter que aprender o que é a vida. O pior (mas também divertido) é que vai fazê-lo pelos padrões daqueles gangsters xunga.

Chappie é a enésima versão do mito do Pinóquio, só que aqui com um menino de lata em vez de madeira, que ganha consciência existencial e deseja tornar-se de carne e osso (alguém mencinou AI – Inteligência Artificial?). Aliás, até há um filme assim, que explora esta premissa a partir das leis da robótica de Isaac Asimov, chamado Eu, Robot. A diferença é que Neill Blomkamp fá-lo a partir do molde do blockbuster de acção, com explosões, tiroteios e muita acção empolgante.

Além disso, Blomkamp equilibra a acção e o fogo-de-artifício com o humor e, claro, com o melodrama. Afinal de contas, todos nos lembramos de Curto-Circuito ou de O Milagre da Rua 8 (ou, mais recentemente, daquele vídeo do cão-robot que se equilibrava quando era pontapeado por um cientista “malvado”) e de como é fácil humanizarmos uma máquina e sofrermos por ela como se ela também fosse de carne e osso e tivesse sentimentos.

Blomkamp domina os código do género e contamina-os com a sua própria abordagem, incluindo, como fazia em Distrito 9, a linguagem televisiva – os noticiários onde os repórteres ajudam a contextualizar o filme, mais uma influência de Paul Verhoeven e do seu RoboCop – O Polícia do Futuro, em que os anúncios televisivos constantes a irromperem pelo ecrã tinham o mesmo efeito. E já que estamos a falar desse clássico do realizador holandês, a terceira referência directa é o Moose, o super-robot-polícia criado por Hugh Jackman, que faz lembrar descaradamente o ED-209.

Depois de Chappie, Neill Blomkamp ainda não fez mais nada além de um par de curtas. Há, no entanto, planos para pegar num projecto que servirá de sequela ou prequela ou sabe-Deus ao franchise do Alien. Vamos ver se este McBacon serviu para dar um passo atrás e pegar balanço para almejar novamente a maiores voos (leia-se a menus ainda mais saborosos).

Título: Chappie
Realizador: Neill Blomkamp
Ano: 2015

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