E, de repente, Jackie Chan envelheceu. Aquele que nos habituámos a ver sempre na mesma, sem rugas a acompanhar a passagem dos anos e a saltar de um lado para o outro como um boneco de borracha sempre-em-pé, surge-nos sem aviso em O Estrangeiro com a cara toda amassada, os olhos fundos e o tempo bem vincado na expressão de carneiro mal morto.
O Estrangeiro é então o filme em que Jackie Chan assume que já é um sexagenário respeitável. Imigrante estabelecido em Londres, Chan vê a filha a morrer num atentado bombista reinvindicado por um braço dissidente do IRA – e essa é a segunda surpresa do filme, ser uma história sobre a Irlanda, quando esse é um conflito (mais ou menos) adormecido há anos. Seja como for, é um revenge movie, e como em qualquer revenge movie é payback time.
A novidade aqui é que isto é apenas uma espécie de subplot que vai passando atrás, porque a verdadeira história de O Estrangeiro é a de Pierce Brosnan, político irlandês e antigo membro do IRA, que vai ter que gerir a situação dentro do seu partido, do governo britânico e dentro do seu antigo grupo separatista. Ou seja, O Estrangeiro é um filme político, com muita conversa e o irritante sotaque irlandês de Brosnan. No entanto, não é Aaron Sorkin quem quer e fazer um filme político não é só pôr políticos a falar ao telefone…
Depois, Jackie Chan mete na cabeça que, por ter pertencido ao IRA, Brosnan tem que saber quem foram os bombistas e começa-lhe a fazer a vida negra, com muitas engenhocas com tanto de MacGyver quanto de dispensável (uma e outra coisa não estão estritamente relacionadas?). Isto não faz muito sentido, mas claro que há um twist à espera no final, que topamos à distância, mas que de tão óbvio que é nos recusamos a acreditar que vai mesmo a acontecer.
O Estrangeiro é assim extremamente aborrecido, que acorda aqui e ali para a coreografia habitual de Jackie Chan, que apesar dos 60 anos continua numa forma brutal. É um filme altamente esquecível, que se não fosse essa curiosidade de ter um Jackie Chan envelhecido nem sequer chegaria, provavelmente, a ter direito a uma prosa aqui. Para filmes sobre o conflito irlandês iremos continuar a preferir o Chuva de Fogo. Este aqui não passa do Cheeseburger. Aparentemente, o realizador Martin Campbell só serve mesmo para revitalizar o James Bond…
Título: The Foreigner
Realizador: Martin Campbell
Ano: 2017