Com a polémica que houve em redor do filme – incluindo um banimento oficial no principado do Mónaco -, Grace de Mónaco podia ter beneficiado de toda a publicidade (porque there’s no such thing as bad publicity) para se tornar num fenómeno qualquer de bilheteiras. Mas, mesmo assim, passou despercebido por aí, com a mesma indiferença com que foi recebido em Cannes. A excepção, claro, foram as velhotas que ainda compram a Hola.
Grace de Mónaco narra o conto de fadas de Grace Kelly, a oscarizada actiz de Hollywood (e musa de Hitchcock) que se transformou em princesa do Mónaco, depois de se apaixonar pelo príncipe Raunier. No entanto, o que parecia ser uma vida de sonho acabou por se revelar mais deprimente do que o esperado, com Gracie a despertar para uma vida de protocolos, desencantada, e onde as mulheres não tinham propriamente uma carreira para além da de… princesa.
Grace de Mónaco não é tão mau quanto o pintam. É certo que a história de uma princesa-actriz encostada entre a espada e a parede (sendo a espada a sua vida real e a parede a sua vida pessoal em Hollywood), tendo que optar por uma vida na representação ou uma vida de representação, pedia mais, muito mais, mas o francês Olivier Dahan consegue os serviços mínimos para se qualificar. As personagens raramente são mais do que caricaturas bidimensionais e o filme usa e abusa dos close ups, sem tripé, como se, ao se aproximar da princesa, conseguisse estar a penetrar-lhe na alma ou a revelar mais qualquer coisa que só ele consegue ver, mas o essencial está lá (se bem que com erros de composição). E o contexto político do filme é bastante interessante, com o Mónaco sob um ultimato francês. Depois tudo se resolve como por magia, graças à predestinação de Grace, num golpe de teatro ridículo, mas que já ninguém quer saber aquela hora. Felizmente, Dahan tem o bom-senso de não esticar o filme para lá do suportável.
Por isso, vamos lá ao que realmente interessa: e que tal Nicole Kidman no pele de Grace Kelly? Não é que esteja mal, mas nunca deixamos de ver realmente Kidman na pele da princesa. E isso diz tudo. Mas pior é ainda Tim Roth, enquanto Rainier III, que parece estar sempre a fazer um frete. Mas aí acho que o problema é mesmo do argumento, que não lhe dá mais do que aquilo. Grace de Mónaco vê-se sem fastio e é igualmente esquecível. Não vem daqui mal ao mundo e o principado não tem que se preocupar com este Double Cheeseburguer em dar mau nome aos Grimaldis.
Título: Grace of Monaco
Realizador: Olivier Dahan
Ano: 2014