| CRÍTICAS | Fantasmas de Marte

John Carpenter, o realizador que nunca fez um mau filme, ficou chateado quando, em 2001, o seu Fantasmas de Marte foi mais uma vez um flop de bilheteiras. In England, I’m a horror movie director. In Germany, I’m a filmmaker. In the US, I’m a bum, terá dito antes de pendurar as chuteiras. Claro que não entrámos em pânico, pois sabíamos que Carpenter iria quebrar a palavra, mas parece que a paragem lhe fez bem, uma vez que o episódio que realizou para a série Masters of Horror foi um regresso à boa forma. Depois veio O Hospício, mas isso é história para outras núpcias.

O que é certo é que Fantasmas de Marte é mesmo o seu filme menos bom, em mais um action movie pateta, mas que, ao contrário dos anteriores – Fuga De Los Angeles e Vampiros -, é bem menos entretido. Apesar de repisar algumas das suas pegadas anteriores, Fantasmas de Marte é sempre mais um série-b de uma economia de ideias asfixiante e muito chapa quatro. Se pelo menos Carpenter se tivesse esforçado tanto no filme como na banda-sonora, em que convocou uma série de malta da pesada do hard-rock…

Fantasmas de Marte situa-se num hipotético futuro em que a humanidade colonizou Marte, numa sociedade cyberpunk, como todos os futuros distópicos e pós-apocalípticos de Carpenter. Além disso, é uma sociedade matriarcal, onde os homens já não abundam por aí além (mas que nunca sabemos porquê), o que faz de Fantasmas de Marte um filme cheio de girl-power (com duas gerações de actrizes de acção, Pam Grier e a xunga Natasha Henstridge), lembrando os saudosos tempos do cinema exploitation. É neste cenário que um grupo de militares, onde pontifica também um novinho e com cabelo Jason Statham, vai ter que escoltar um perigoso crimonoso, interpretado por Ice Cube.

Sem grande imaginação, o argumento fecha-os a todos na prisão, rodeados por um exército de possuídos, comandados pelo Marilyn Manson (ou pelo menos um tipo com um mau aspecto muito semelhante), trasnformando Fantasmas de Marte numa variação dos westerns do forte sitiado. E, claro, é impossível não pensarmos em Assalto à 13ª Esquadra. E com tanta mulher fechada numa delegacia, só nos conseguimos lembrar do mais saudoso subgénero do cinema – o filme de prisão com mulheres. Depois descamba tudo ao tiro, aos saltos, às explosões e é um ver se te avias até à fuga final.

Falta a Fantasmas de Marte mais qualquer coisa para que não fosse apenas mais um filme de Carpenter. Falta-lhe alguma subversão, algum estilo ou apenas alguma descontração no esgalhar das cenas de luta (e são muitas, não há que queixar). É que assim, o filme torna-se muitas vezes anónimo, como mais um bom série-b. Não é mau, é mais do que nos dão na maior parte das vezes, mas não deixa de ser o filme menos bom de Carpenter e o seu (único?) Double Cheeseburger.Título: Ghosts of Mars
Realizador: John Carpenter
Ano: 2001

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