É curioso perceber como é que um filme como Espécie Mortal, que hoje não é mais do que uma simples nota de rodapé nos livros de história de cinema, foi um fenómeno tão grande quando estreou. Quer dizer, não é tão difícil compreender. Apesar de ser um filme com um bom par de ideias, Espécie Mortal não é mais do que um série b com um bocadinho mais de orçamento.
Espécie Mortal tentava ser mais um capítulo de sucesso na linhagem dos filmes sci-fi mais musculados, ainda na ressaca do mega-sucesso de Exterminador Implacável 2. Mas com uma protagonista feminina, colocando-o assim mais próximo de Alien – O Oitavo Passageiro, de Ridley Scott.
A debutante Natasha Henstridge é então Sil, uma humanóide meio-alienígena meio humana, criada em laboratório com ADN enviado pelo espaço por uma raça desconhecida, que se desenvolve extremamente depressa. Quando o filme começa é apenas a Michelle Williams quando era apenas uma menina e, apenas 20 minutos depois, é já a boazona da Natasha Henstridge. O que significa que no final filme será uma velha com os pés para a cova, certo? Errado! Natasha Henstridge ficará sempre neste estágio de desenvolvimento, até porque vai aparecer mais vezes despida do que vestida. E o máximo em que se transformará é… numa criatura-lagarto, vai-se lá saber porquê.
Sil vai então procurar um homem para procriar e criar uma prole que domine o mundo, enquanto o Governo dos Estados Unidos coloca no seu encalço uma super-equipa(!), altamente treinada(!!), composta pelo Ben Kingsley, um assassino profissional (Michael Madsen), uma bióloga (Marg Helgenberger), um antropólogo (Alfred Molina) e… um medium (Forest Whitaker). MAs a palavra-chave de Espécie Mortal é aquela que usei no parágrafo anterior: protagonista feminina. Espécie Mortal é um filme altamente feminista, apesar do (anti)herói… pouco convencional, chamemos-lhe assim. É que além do vilão ser uma mulher, Marg Helgenberger está numa posição de força – a de predador sexual, neste caso, normalmente entregue a arquétipos masculinos.
Espécie Mortal apostava tudo em fazer da modelo Natasha Henstridge uma estrela que vendesse o filme por si só, mas este não a ajuda nada. O argumento é apenas um encadeado de cenas de um pobre jogo do gato e do rato, que nem sempre fazem sequer sentido. Felizmente, há ainda na equação a considerar o nome de H.R. Giger, que dá mais uma dose de interesse extra ao filme, com as suas criaturas bizarras, uma cena perturbadora de um sonho com um comboio, um beijo premiado pela MTV que fica para a história dos beijos do cinema e a transformação da Michelle Williams na Natasha Henstridge, a sair de um casulo, que é uma cena de nascimento melhor do que muitas outras mais sérias.
Portanto, Espécie Mortal é um filme com boas e válidas intenções, mas com uma execução fraquinha. Justificava o buzz todo? Nem por sombras. Nem tão pouco uma sequela. Justificava um Cheeseburger e upa upa.
Título: Species
Realizador: Roger Donaldson
Ano: 1995
O sucesso de Espécie Mortal foi o suficiente para financiar uma sequela, 3 anos depois, mantendo o elenco mais barato: Natasha Henstridge, cuja carreira nunca passou da cepa torta, Michael Madsen, o rei dos xungas, e Marg Helgenberger (quem?). Obviamente que o tom subversivo do filme antecessor desaparece e, em compensação, a xungaria aumenta.
Ou seja, com a redução do orçamento de Espécie Mortal 2, aumentou exponencialmente a sua natureza de série b. Que é o mesmo que dizer que há (ainda) mais pele à vista e mais gore e explosões sangrentas. Desaparece também H.R. Giger e, apesar dos esforços de Steve Johnson em se manter fiel ao espírito do suiço (incluindo a imitação de vários chestbursters), Espécie Mortal 2 sai claramente a perder com esta baixa.
Quanto à história é uma variação d do primeiro filme, mas agora com um homem na figura do predador. Patrick Ross (Justin Lazard) é o primeiro astronauta a pisar Marte, mas regressa infectado com o ADN da criatura do Espécie Mortal original. Chegado à Terra, vai desatar a copular à bruta, para aumentar a sua prole e dominar o mundo (onde é que já vi isto?). Felizmente existe Eve, clone da Sil original, que vai ajudar Madsen e Helgenberger a tentar pôr cobro a este flagelo. E digo tentar porque, infelizmente, ainda existiriam mais duas sequelas…
Se juntássemos estes dois filmes num só, poderíamos ter aqui algo bem interessante. Ou seja, as ideias subversivas do primeiro com o estilo mais gráfico e desavergonhado do segundo. Mas não, só temos uma sequela de qualidade duvidosa e um Happy Meal com um leve travo a estragado.
Título: Species II
Realizador: Peter Medak
Ano: 1998
espero que tenhas parado segundo, eu ainda vi o terceiro e … nem me lembro como era, pois nem sequer era mau bastante para ser memorável.
Credo. Agora fiquei curioso… não há mesmo nada memorável?
Esforcei-me bastante aqui para me lembrar de algo… mas nada mesmo, apenas o título do filme.