| CRÍTICAS | Cabaret Maxime

O Maxime, o saudoso cabaret da Praça da Alegria (do qual o realizador Bruno de Almeida chegou a ser sócio antes de encerrar portas), era um espaço que tinha uma atmosfera muito especial a um tempo de outrora. Mais ou menos como o Cais de Sodré, mas o de antes, do tempos dos marinheiros e de senhoras da má vida e não este, o do advento da pink street que o tornou no epicentro da nova movida lisboeta. Por isso, não é de estranhar que Bruno de Almeida tenha escolhido ambos (o primeiro, porque já não existe, recriado no também fechado e igualmente saudoso Ritz, e o segundo filmado sem a invasão actual) para fazer um filme sobre a passagem do tempo.

O Maxime é então o espaço nocturno de Bennie Gazza (Michael Imperioli), um cabaret de variedades como já não há, acossado pela especulação imobiliária, pelo turismo e massas e pelas queixas do ruído elevado (aliás, tal como aconteceu com o original, em mais um dos vários momentos em que a realidade contamina a ficção). Aliás, o próprio Bennie Gazza é um homem de outros tempos, que despreza essas modernices das redes sociais, os telemóveis e a música tecno, mantendo-se fiel a um mundo em perda e cada vez mais rarefeito. Não é, portanto, coincidência que o filme se passe em Lisboa, funcionando como câmara de ampliação do que se passa em Portugal em geral e na capital em particular, com a gentrificação, airbnbs e todo um movimento que está a expulsar os locais das cidades, para se construir hotéis para albergar os turistas que cá vêm para ver os locais que estão a ser expulsos para se construir mais hotéis para albergar os turistas…

Apesar de ser filmado em Portugal, Cabaret Maxime é todo falado em inglês e com actores maioritariamente norte-americanos (incluindo as participações nacionais, como a inesperada de Celeste Rodrigues, com 95 fresquinhos anos celebrados há pouquíssimo tempo), como se estivessemos na Nova Iorque dos anos 70. Aliás, é esse o universo e a escola de Bruno de Almeida, que viveu inclusive na Big Apple. Não é por acaso que os protagonistas são dois dos actores dos Sopranos (olá Michael Imperioli e John Ventimiglia), que o principal se chama Bennie Gazza (num jogo de aliterações com o nome do actor de A Morte de Um Apostador Chinês), a sua namorada temperamental  é Stella e há pelos secundários um Ray, um Franco ou um Warren. Fica a faltar um Kazan para completar o ramalhete.

E toda uma iconografia de agiota e mafiosos transportada para a realidade portuguesa, que rima com a actualidade, num divertido jogo de referências e influências, recorrendo a signos e códigos de género que reconhecemos de Scorsese ou de Cassavetes. Tudo isso entrecortado pela magnífica banda-sonora, os momentos musicais dos Ena Pá 200, o lendário Phil Mendrix, o fogo da soul de Selma Uamusse, a única Miss Suzie, o mítico Sandro Core e uma série de variedades, burlesco e musicól mais ou menos excêntricas. Um nostálgico Mcbacon de outrora e, ao mesmo tempo, extremamente actual.

Título: Cabaret Maxime
Realizador: Bruno de Almeida
Ano: 2018

One thought on “| CRÍTICAS | Cabaret Maxime

  1. Pingback: | LISTAS | Os 9 Melhores Filmes de 2018 | Royale With Cheese

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *