Em Filomena, a personagem de Steve Coogan, o jornalista e ex-adido de um ministério do governo inglês Martin Sixsmith, explica que as histórias de interesse humano são apenas para pessoas vulneráveis, fracas de espírito e ignorantes. O que não deixa de ser uma inside joke, porque Filomena não é mais do que uma história de interesse humano. Mas Stephen Frears está mais do que habituado a fazer filmes destes, sobre pessoas, para se deixar amedrontar por rótulos.
Filomena é a história verídica de como Sixsmith ajudou Filomena (Judi Dench) a encontrar o filho que dera para adopção há quase meio século atrás, coagida pelas freiras do convento onde estava interna. A investigação não é fácil e leva-a ao outro lado do Atlântico, servindo sobretudo para desmascarar o comportamento nada cristão de uma ordem de freiras, que utilizava a culpa e a expiação dos pecados das ingénuas jovens internas para fazer dinheiro.
Com a classe muito britânica que lhe é característica, próxima da tradição teatral e da produção de mérito da BBC, Frears monta um drama de investigação, que nunca soçobra para o melodrama de faca e alguidar porque 1) Steve Coogan e Judi Dench são uns senhores actores e 2) a química entre ambos – ele, um membro da classe alta britânica, ela, uma irlandesa terra-a-terra -, alivia a tensão e faz sorrir de quando em vez pelo cinismo dos diálogos.
Salvo um par de bons momentos, Filomena não deixa contudo de alinhar por um diapasão que deixa sempre a ideia de poder ir mais além. A nomeação ao Oscar de Judi Dench foi merecida, mas a decisão da Academia foi apenas uma espécie de pro forma que não ata nem desata. Pelo contrário, o McChicken é mais do que garantido e ninguém o tira a Filomena.
Título: Philomena
Realizador: Stephen Frears
Ano: 2013