| CRÍTICAS | Um Rapaz e o seu Cão

Um Rapaz e o Seu Cão é, literalmente, um filme de culto. Uma obra provocadora e transgressora, amado tanto por uns quanto odiado por outros tantos, que criou uma legião de fãs ao longo do tempo, depois de ter levado porrada de todos os lados aquando da sua estreia. E hoje em dia, quase 40 anos após ter sido feito, ainda espanta como é que um filme destes foi feito.

É que Um Rapaz e o Seu Cão é um dos mas perigosos filmes jamais realizado, apesar do seu aparente ar inocente. É misógeno, machista e violento. Esqueçam o Russ Meyer ou o Lars Von Trier. Este é o real deal. Ora vejamos: Um Rapaz e o Seu Cão é a história de um violador em série, numa fábula à La Fontaine sobre a lealdade, onde o cão assume o papel de melhor amigo do homem em detrimento da mulher, com tudo o que isto tem de pior.

Mas não é só isto. Um Rapaz e o Seu Cão é também uma distopia futurista, que faz um comentário anti-totalitário. Ou pelo menos assim parece, já que às tantas as coisas deixam de fazer um pouco de sentido. Ora vejamos: Vic (um adolescente Don Johnson) vagueia por um mundo árido e destruído (culpa da quarta Guerra Mundial) acompanhado pelo seu cão, com quem fala telepaticamente(!) por qualquer razão obscura, em busca de alimento e gajas para violar. Até que uma bela febra (Susanne Benton) o convence a ir explorar uma misteriosa civilização subterrânea, onde vivem uns tipos amorfos e sedados, com a cara pintada de branco, terminando tudo numa bela anedota.

Apesar do baixo orçamento, Um Rapaz e o Seu Cão tem um aspecto eficaz, que influenciou determinante o cenário pós-apocalíptico de Mad Max 2 – O Guerreiro da Estrada. Apesar de todo o deboche e imoralidade, Um Rapaz e o Seu Cão trata tudo com uma ligeireza (e abordagem irónica) e um certo humor negro, mascarando-o de filme de domingo á tarde com animais falantes. E o que é certo é que Blood, o cão-pastor protagonista, arranca uma das melhores prestações caninas da história da sétima arte. Esqueçam lá aquele cão que jogava hóquei no gelo, este nem precisa de saber nenhum desporto.

Baseado num conto de Harlan Ellison, um dos nomes máximos da literatura fantástica (especialmente a pouco convencional), Um Rapaz e o Seu Cão foi ainda a única experiência na cadeira de realizador de L. Q. Jones, esse grande bigode do cinema xunga. Tudo pontos a favor de um Le Big Mac com uns tomates de todo o tamanho, para o qual é difícil encontrar comparação.

Título: A Boy and His Dog
Realizador: L. Q. Jones
Ano: 1975

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