| CRÍTICAS | Inner Ghosts

A cientista e professora catedrática Helen (Celia Williams) está a tentar comunicar directamente com o eu interior das pessoas, aquilo que pode ser visto como a alma, com o intuito de revolucionar a medicina moderna. Imagine-se ser possível comunicar com alguém que esteja em coma, por exemplo. É revolucionador, as potencialidades são imensas e, após a apresentação inicial do projecto, uns investidores abrem os cordões à bolsa para alavancar a investigação, ajudando a professora e a sua universidade. Mas há um plot twist: Helen é também medium e vai fazer a sua investigação falando directamente com fantasmas(!).

É esta a premissa de Inner Ghosts, o cartão de visita da Bad Behavior, a nova produtora nacional que se quer especializar em cinema de terror e fantástico e que teve estreia na última edição do MotelX. É um filme inteiramente falado em inglês, a pensar nos mercados internacionais, e com valores de produção consideráveis, provando que é possível fazer cinema de género em Portugal.

Sem grandes picos de intensidade, Inner Ghosts desenrola-se a velocidade de cruzeiro, à medida que a professora Helen vai montando o seu laboratório numa casa semi-abandonada, fala com um fantasma que lá está, ele dá-lhe os planos de uma máquina antiga para comunicar com o além(!) e ela, com a ajuda das assistentes (Iris Cayatte e Elizabeth Bochamnn), constrói-a com recurso a impressoras 3D(!!). Não há grande sofisticação no argumento, mas num filme de fantasmas não se pede muito além de boas cenas de sustos.

No entanto, quando o filme vai entrar no seu último terço, parece que o realizador Paulo Leite se cansou da produção e atirou o argumento às urtigas. Talvez alguém tivesse um comboio para apanhar no da seguinte, porque, saído do nada e sem que ninguém o previsse (ou tivesse havido algum indício no filme que tornasse aquela situação credível ou minimamente plausível), surge em cena um dos secundários, saca duma arma e arruma com o filme em minutos. Quer dizer, sem antes o demónio principal do filme se imprimir a ele próprio na impressora 3D(!), em mousse de chocolate(!!), para logo a seguir ser esfaqueado.

É um final altamente surreal – e algo epiléptico, já que é uma longa sequência filmada com uma luz strobe -, que não encaixa nada no resto do filme, com o seu tom calmo e ritmo (até demasiado) complacente. E apesar do Cheeseburger poder não o parecer, a verdade é que mostra que há futuro para o cinema fantástico no nosso país.

Título: Inner Ghosts
Realizador: Paulo Leite
Ano: 2018

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *