| CRÍTICAS | A Pantera

Nos anos 40, o cinema de terror era, basicamente, exclusivo dos filmes de grandes monstros, especialmente os da Universal (olá Drácula, olá Frankenstein). Até que, em 1940, Jacques Tourneur partiu a loiça toda com este A Pantera, introduzindo pela primeira vez a mundo o terror psicológico.

No entanto, essa preferência pela sugestão não foi tanto estética, mas sim uma necessidade. É que A Pantera, primeiro de uma série de filmes de terror do produtor Val Lewton, foi uma produção de baixo orçamento, que Tourneur soube contornar com esta opção, refugiando-se nas sombras e nesse jogo do parece-que-disse-mas-não-tenho-a-certeza. Com isso, criou uma estética própria, que se tornaria em imagem de marca e influenciaria realizadores de todo o mundo, especialmente os que gostam de filmar a preto e branco, como o nosso Pedro Costa, confesso admirador de Tourneur.

Antes de a Sérvia ser o berço de todos os vilões europeus, tinha sido a casa-mãe de Irina (Simone Simon), a protagonista de A Pantera, que acredita piamente ser alvo de uma maldição que afecta todas as mulheres da sua aldeia e que as transforma em panteras quando sentem prazer por um homem. Ou, pelo contrário, raiva e ciúme. Por isso, quando se apaixona (e casa) com Oliver (Kent Smith), Irina evita beija-lo, temendo pela sua segurança.

Esta história é uma metáfora para com a repressão sexual feminina e, já agora, todos os tabus sexuais de uma década de conservadorismo rígido. Ao mesmo tempo faz um paralelismo ácido com o Código Hayes, que censurava os filmes de Hollywood em nome de uma alegada conduta moralmente aceitável. No entanto, à superfície, A Pantera é um film-noir, com um uso perfeito das sombras, que assim substituem na perfeição a economia de meios.

Tourneur percebe o poder da sugestão e utiliza as sombras, as silhuetas e o lusco-fusco da penumbra para estimular a curiosidade do espectador e aumentar a tensão, que vai enchendo como uma panela de pressão. Quem vê fica na dúvida até quase ao fim, se aquela mulher é capaz ou não de se transformar num felino. E mesmo no final as dúvidas não ficam totalmente dissipadas. Até porque Tourneur resiste à tentação de (quase) nunca mostrar a tal pantera, o que se previa arriscado tratando-se de um filme chamado… A Pantera.

Apesar de um background algo coxo (a história sérvia não convence particularmente) e representações algo frouxas, A Pantera vale pela sua atmosfera e ambiente fantasmático, abrindo a porta à obra de Jacques Tourneur, em geral, e a todo um cinema fantástico de sugestão em particular. Encomenda-se aqui um McRoyal Deluxe e mete-se logo ao lume o prato seguinte, Zombie.

Título: Cat People
Realizador: Jacques Tourneur
Ano: 1942

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