| CRÍTICAS | Uma História de Amor

 

Há um episódio n’A Teoria do Big Bang em que Raj se apaixona pela Siri, do seu iPhone. Muito basicamente, Uma História de Amor (mais uma tradução imaginativa (sic) para português) é uma variação deste episódio, mas mais sofisticada, bem escrita e aprofundada.

Nos filmes que foram aos Oscares em 2014, muito se falou da transformação de alguns actores que mudaram radicalmente para determinados papéis: Christian Bale e a sua careca, marreca e barriga de cerveja em Golpada Americana; Matthew McConaughey e os seus menos 20 quilos, em O Clube de Dallas; e, no mesmo filme, Jared Leto em modo transexual. No entanto, a Academia esqueceu-se de uma nomeação. A de Joaquin Phoenix, neste Uma História de Amor, que com o seu bigode se transformou numa espécie de Ned Flanders, mas sem a parte da religião. Um dos injustiçados dessa edição dos Oscares!

É este Joaquin Phoenix – infeliz, solitário e deprimido, desde que se separou da mulher da sua vida – que se vai apaixonar por Samantha (voz de Scarlett Johansson, que mesmo sem aparecer é irresistível), um operador de sistema inteligente que instala no seu computador. Vive-se num futuro não muito longínquo, hipertecnológico, e a humanidade tornou-se tão alienada, que Phoenix só encontra amor e companhia numa aplicação tecnológica. Já dizia o Einstein, naquela que deve ser a citação mais mal citada de toda a história recente da internet, que I fear the day when the technology overlaps with our humanity. The world will only have a generation of idiots.

Mais do que uma história de amor, nos habituais moldes delicodoces de Spike Jonze (que filma tudo com cores neutras, em contraste com os luminosos flashbacks em que Phoenix relembra os momentos felizes passados com a cara-metade). Uma História de Amor é uma sátira a este mundo de impessoabilidade para o qual parecemos caminhar cada vez mais. Tira um par de coelhos da cartola, faz-nos rir por dentro meia dúzia de vezes e, há que ser sincero, chove no molhado durante um bocadinho também. No entanto, onde se perde mesmo é no final algo abrupto, como se tivesse pressa de ir para casa, depois de duas horas em que vai desenrolando o novelo daquela história de amor proibida entre um homem e uma máquina. Em termos de romance (pouco convencional claro, afinal de contas estamos a falar do mesmo homem que fez I’m Here, a menos convencional história de amizade recente), será sem dúvida o melhor McRoyal Deluxe que irá ver nos próximos tempo dentro do género.

Título: Her
Realizador: Spike Jonze
Ano: 2013

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