| CRÍTICAS | Fahrenheit 11/9

O mundo está tão mau que agora olhamos para os filmes de Michael Moore e já nem os achamos estranhos. Ele é agora só uma voz sensata, num mundo polarizado e cada vez mais assustador, tendo passado a ser um tipo moderado num mundo de loucos. Por isso, depois de vermos o seu novo Fahrenheit 11/9 só nos apetece gritar: parem de tornar Michael Moore num tipo sensato!

Mas não pensem que, ao ver Fahrenheit 11/9, não se vão sentir irritados, chocados ou revoltados. Mesmo que não haja nada de propriamente novo, especialmente para quem estiver mais ou menos informado com a situação política internacional, em geral, e a norte-americana em particular. Fahrenheit 11/9 parte da eleição de Donald Trump, como presidente dos Estados Unidos da América, para responder à questão: how the fuck did it happen? E a resposta é bem mais simples do que parece. Não tem a ver com Cambridge Analytica, russos e fake news. Estava tudo à vista. E tudo começou com a Gwen Stefani.

Quem? A tipa dos No Doubt? Como assim? Pois é, já vos despertei a curiosidade para irem ver um documentário que, se calhar, até iam deixar passar por estarem fartos de tantas más notícias. Eu pelo menos ponderei isso. E a parte da Gwen Stefani ganhou-me e puxou-me para o filme. No fundo, isso é o que Moore sabe fazer de melhor: falar de coisas sérias recorrendo a uma linguagem pop, fazendo documentários para quem não gosta de documentários.

É certo que vai destilar muito ódio em Fahrenheit 11/9 e nem Barack Obama sai incólume. Flint volta a ter um papel importante – aliás, como em todos os filmes do realizador desde Roger e Eu – e ficamos a saber mais sobre um caso que só nos chegou cá de forma incompleta, relacionado com a água imprópria para consumo da cidade. Mas também existem casos bons, que nos restauram um pouco a fé na humanidade: a mobilização dos jovens contra a NRA (Bowling for Columbine a ressoar aqui) e o lobby das armas ou uma greve geral dos professores.

O problema de Fahrenheit 11/9 não é parecer que já o vimos antes. É mesmo algum atabalhoamento em certos momentos. Michael Moore tem ali alguns problemas de edição, com dificuldade em encadear casos em determinada altura. Mas também não lhe perdeu o jeito, já que continua acutilante, como quando mete Donald Trump a discursar por cima de imagens de arquivo de comícios de Adolf Hitler. Por isso, o problema principal do filme está mesmo no contexto actual. Infelizmente, Michael Moore já não é o grito de alerta que era há 10 anos atrás; e o seu cinema vive muito desse empolgamento. Mas isso não faz desmerecer em nada o McChicken final.

Título: Fahrenheit 9/11
Realizador: Michael Moore
Ano: 2018

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