| CRÍTICAS | King Cobra

King Cobra é o biopic de Brent Corrigan, a jovem estrela porno cujo produtor, Bryan Kocis, numa disputa pelos direitos de autor do nome do actor, acabou assassinado por outros produtores rivais da indústria. Sendo o outro filme do realizador Justin Kelly, O Meu Nome é Michael, a também história real de Michael Glatze, um activista gay que se tornou em pastor cristão anti-homossexualidade, não deixa de ser estranho que os seus trabalhos sejam tão… condescendentes. O próprio Brent Corrigan, depois de ter autorizado que usassem o seu nome no filme, veio queixar-se que King Cobra menospreza a cultura queer e envergonhava a pornografia.

Seja como for, a história de King Cobra tinha mesmo que dar um filme. Tal como Os Crimes de Wonderland, por exemplo, King Cobra é uma estranha história criminal nos meandros da indústria porno. Mas mais violenta e brutal. Kocis, ou melhor, Stephen (Christian Slater) – porque só o protagonista usa o nome real – era o responsável pela pequena produtora de cinema porno gay, Cobra, que lançou o jovem Brent Corrigan (Garrett Clayton) para o estrelato. Mas depois destes se chatearem e de acusações mútuas em tribunal, por causa dos direitos de autor do nome artístico do actor e da sua respectiva maioridade, Stephen acabou brutalmente esfaqueado pelos tipos da Viper (James Franco e Keegan Allen), que queriam fazer um filme com Brent e não podiam por causa do imbróglio jurídico.

Justin Kelly tenta encontrar similaridades entre a vida de Brent Corrigan e a de Franco e Allen, tentando monta-las muitas vezes em paralelo, até os caminhos de ambos se virem a juntar – de um lado o jovem que vem tentar a fama e o estrelato, do outro os que não têm onde cair morto, mas não se apercebem disso e vivem uma vida que não é a deles – e que, no fundo, são ambas as faces da mesma moeda. No entanto, sempre que está com dificuldades e vê que está a perder o fio à meada, lança uma cena de sexo gay. O que faz com que King Cobra pareça muitas vezes apenas um esboço do que poderia vir a ser o filme final. E havia aqui muito material para dar um filme bom.

Além disso, embrulha todo o filme numa estética cheia muito estilizada, de neons e música com sintetizadores, como se estivesse estado em dieta de Nicolas Winding Refn, circa Só Deus Perdoa e O Demónio de Neon. Ou então, para falar de outro filme ambientado na indústria de filmes gay de série b, o recente Knife + Heart, se bem que este era um filme de época e fazia todo o sentido ter aquele ambiente nos anos 70.

Por isso, King Cobra pode ficar como material de trabalho para uma próxima adaptação mais em conta deste trabalho real. Não é nada de muito substancial, mas como qualquer de sapa, merece também ser trabalho pago e alimentado. Um Cheeseburger é suficiente para isso.

Título: King Cobra
Realizador: Justin Kelly
Ano: 2016

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