| CRÍTICAS | A Cidade dos Malditos

Quem gosta e costuma ver cinema de terror, sabe quais são as duas coisas mais assustadoras de todas para um filme: rednecks e crianças. No entanto, por mais pesadelos que um bom saloio nos possa dar, nada é mais perturbador do que crianças. Para quem tem dúvidas, é ver A Cidade dos Malditos.

Midwich é um pequeno vilarejo no interior norte-americano, daqueles onde se vive intensamento o american dream, em que, certo dia, toda a gente desmaia durante algumas horas. Ninguém tem explicação para o sucedido, muito menos para o que vem a seguir: dez mulheres aleatórias da cidade estão grávidas. Incluindo uma jovem virgem.

Anos depois, os rebentos são então o mais weirdo possível. Vestem-se todos de igual, como Testemunhas de Jeová (até há um que usa gola alta, credo), têm cabelo platinado, não demonstram qualquer tipo de sentimentos ou empatia pelo próximo e andam sempre juntos, como se fossem uma entidade só. E à medida que vão crescendo e ganhando mais autonomia, a coisa vai tornando-se ainda mais sinistra: parece não só que conseguem ler os pensamentos dos outros, como começam a acontecer mortes suspeitas.

O bodycount de A Cidade dos Malditos é elevado e ninguém está a salvo, inclusive aquelas que pensávamos que eram as personagens principais. Por isso, até os protagonistas mais famosos – Kirstie Alley antes de ficar gorda e Cristopher Reeves no último filme antes de cair do cavalo – correm perigo de vida. John Carpenter é mais um a subverter a normalidade do subúrbio norte-americano, depois de David Lynch e Tim Burton.

Consta que Carpenter não estava propriamente entusiasmado em refazer este clássico do cinema de horror de 1960 e só o fez por imposição contratual (e porque queria refazer O Monstro da Lagoa Negra). Talvez isso explique a falta de entusiasmo geral de A Cidade dos Malditos, que se limite a preencher o caderno de encargos com um bocadinho mais de grafismo nas mortes. Até a banda-sonora de Carpenter, sempre um must nas suas obras, é aqui desinspirada. Mas até o pior Carpenter é melhor que a maioria dos bons filmes de terror que estreiam anualmente. Digam lá o que viram em 2018 dentro do género melhor que este McBacon?

Título: Village of the Damned
Realizador: John Carpenter
Ano: 1995

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