| CRÍTICAS | 007 – Ao Serviço de Sua Majestade

007 – Ao Serviço de Sua Majestade é, muito provavelmente, o mais peculiar de todos os tomos da saga James Bond. Comeaçando logo por ser o único de George Lazenby na pele do espião (esse desconhecido modelo australiano e, consta, com uma inesperada atitude de vedeta durante as filmagens), mas também por ter a última gravação de Louis Armstrong antes de morrer na banda-sonora, por ser a única vez que Bond casa(!) e, claro, the last but not the least, por ter sido rodado em grande parte em Portugal (mesmo que, supostamente, seja a Córsega).

Por vezes, parece que é um facto algo esquecido. James Bond casa ali na herdade do Zambujal (com grupo folclórico a condizer e tudo), fica viúvo na serra da Arrábida, compra a aliança no Rossio e anda à porrada na praia do Guincho. E, pormenor quase meta-referencial, fica hospedado no Hotel Palácio, no Estoril, o verdadeiro Casino Royale, onde Ian Fleming conheceu o espião jugoslavo Dusko Popov, a grande influência para o seu espião engatatão e bon-vivant.

Trivialidades à parte, 007 – Ao Serviço de Sua Majestade é o elo de ligação perfeito entre a dureza de Sean Connery e a insolência e o savoir faire de Roger Moore. Numa altura em que os filmes começavam a ter uma outra seriedade (a contra-cultura e os movie brats estavam a lançar a sua revolução em Hollywood), 007 – Ao Serviço de Sua Majestade nunca se decide em se manter na irrisão das aventuras-vale-tudo de James Bond ou tentar uma abordagem mais realista. Por isso, mistura sequências de acção bem à frente do seu tempo e técnicas até então nunca usadas na série (câmaras-lenta, analepses…) com vilões do inspector Gadget ou o próprio Lazenby a dirigir-se directamente à câmara e a derrubar a quarta parede: this never happened to the other fella.

A primeira meia-hora é então uma espécie de James Bond light. O rei do submundo criminoso Draco (Gabriele Ferzetti) pede ao agente secreto para seduzir e casar(!) com a sua filha (Diana Rigg, que hoje em dia já ninguém se lembra que foi bond girl, mas toda a gente a conhece de Game of Thrones tell Cercei it ws me), para que esta não se perca na vida(!!). Depois, Bond vai em missão até aos Alpes, desmascarar o filantropo Blofeld (Telly Savalas), que prepara uma guerra biológica em segredo. Já perto do final, Diana Rigg volta a aparecer do nada(!!!) e, já depois de toda a gente morta e presa, os dois vão casar a Setúbal, para terminar da forma mais gratuita e triste de toda a série 007.

007 – Ao Serviço de Sua Majestade mistura assim momentos muito bons com outros muito cheesy, que nos deixam sem saber muito bem se é um bom episódio da saga com momentos infelizes ou se é um mau episódio da saga com partes boas. E Roger Lazenby? Não nasceu propriamente para este trabalho, mas não se pode dizer que seja um mau Bond. É pena não ter feito mais nenhum episódio, para que pudessemos desampatar este Double Cheeseburger.

Título: On Her Majesty’s Secret Service
Realizador: Peter R. Hunt
Ano: 1969

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *