| CRÍTICAS | Vice

A primeira vez que ouvi falar de Vice, um biopic sobre Dick Cheney, imaginei logo um pastelão daqueles políticos, cheios de palavreado, que não iria muito querer ver. Mas depois lembrei-me que Cheney havia sido o vice-presidente de George W. Bush e, bem… o Bush-filho foi um presidente, digamos, especial (pelo menos se não contarmos com Donald Trump como unidade de comparação). E isso fez-me ficar um bocadinho mais interessado.

Adam McKay também não quis fazer um pastelão político nem tanto um biopic de prestígio, mas antes usar o seu estilo descontraído para contar a história do homem forte da administração de George W. Bush. Afinal de contas, ele, realizador feito na comédia, já tinha tido bons resultados com esse estilo de contar coisas sérias de forma menos séria no anterior A Queda de Wall Street.

O problema é que Dick Cheney é um tema (ainda) mais importante que o da fraude na bolsa norte-americana e esse tom descontraído (que inclui terminar o filme a meio, passando o genérico e tudo, ou quebrar a quarta parede em conversa directa com o espectador como no House of Cards) não cola muito bem. Mas pior que isso tudo é a ideia que fica sempre no ar que tudo é pegue pela rama e nunca é aprofundado o suficiente, como uma espécie de Dick Cheney para totós.

Por exemplo, Vice foca-se sobretudo no período em que Cheney foi vice-presidente de Bush (daí o título) e recua até ao início do seu percurso político. No entanto, Adam McKay cede à tentação de ir ainda mais longe e abre com a adolescência errática de Cheney, ficando-se por um par de vinhetas ilustrativas que serve mais para traçar uma caricatura do que para tirar um retrato.

Logo de início, o próprio realizador apresenta o seu caderno de encargos, garantindo que tentou his fucking best, mas pedindo desculpa por Cheney ser um tipo super-reservado em relação à sua vida privada. Isso explica algumas coisas, é certo, mas a verdade é que a melhor parte de Vice acaba por ser quando este se torna naquele filme político, cheio de palavreado, que temia ao início. E é aí que percebemos o quão manhosa é a política em geral e os governos norte-americanos em particular, nas suas relações internacionais e na sua obsessão pela guerra (e pelo petróleo). O McChicken sai inflacionado para já pela pertinência dos dias que correm, mas irá ter tendência a desinflar.

PS – então e Christian Bale, que voltou a transformar-se fisicamente para um papel, desta vez engordando à bruta? Bem, pela primeira vez conseguimos ver um filme em que um actor envelhece de forma convincente, sem próteses e maquilhagem manhosa, mas a verdade é que nunca deixamos de ver o Batman por baixo daqueles quilos a mais e da careca.

Título: Vice
Realizador: Adam McKay
Ano: 2018

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