| CRÍTICAS | A Árvore da Vida

Seis filmes em 40 anos de carreira, com um hiato de 20 pelo meio. Apesar dos números pouco impressionáveis, Terence Malick é um dos mestres mais venerados da sétima arte e, o mais espantoso ainda, um dos mais consensuais. Basta olhar para o seu palmarés que, em curtos seis filmes, acumula inúmeras nomeações aos Oscares, um Urso de Ouro e uma Palma de Ouro. A questão que se coloca é: será Malick assim tão bom ou tem um grande director de marketing (que inclui um retiro de reclusão com mais de vinte anos sem ser fotografado ou dar entrevistas)?

Depois de se ter debruçado sobre o nascimento do novo mundo, a sua América natal, na revisitação do romance entre John Smith e Pocahontas, Terence Malick terminou um projecto que já se arrastava desde os anos 70. A Árvore Da Vida é uma reflexão sobre a origem da vida e do Mundo, segundo uma abordagem mais criacionista. O filme tem sido amiúde comparado a 2001: Odisseia No Espaço, pelo seu carácter longamente reflexivo e narrativamente desconstruído; mas faz especialmente espécie não surgirem mais comparações com aquela obra-prima que é O Último Capítulo, outra reflexão sobre as origens da vida, que até tem uma abordagem mais ou menos simbólica da yggdrasil, a árvore da vida.

A Árvore Da Vida é uma espécie de saga familiar ao longo de várias décadas. Brad Pitt é o patriarca austero de uma típica família do interior norte-americano, numa recriação de época irrepreensível (incluindo a luz, que por vezes se aproxima daquele monumento que é Dias Do Paraíso). Pitt contrasta com a ingénua, luminosa e submissa Jessica Chastain, na educação de três filhos varões, onde se destaca a estreia segura de Hunter McCraken. Com um amplo arco narrativo, acompanhamos o crescimento e aquele ritual de transição que o cinema americano tanto gosta de McCraken, até crescer e se tornar no Sean Penn, que praticamente não tem falas no filme. Malick é conhecido por não ter contemplações para com os seus actores: se entender que uma sequência não planeada de uma andorinha a nidificar implica cortar a participação de um actor qualquer, seja ele quem for, Malick não tem qualquer problema em o fazer. Por isso é que é também tão adorado pelos cinéfilos. Ao não fazer concessões perante o seu idealismo romântico e poético, Malick ficará para sempre como o movie brat incorrigível.

Filmado em longos plano-sequência, que se imiscuem entre os actores, e com uma fotografia cuidada que vale qualquer Oscar da especialidade, A Árvore Da Vida não se furta a um prólogo e a um epílogo a la Malick. Significa isso que, no início e no final do filme, envereda-se por longas sequências introspectivas, em que o símbolo é mais importante que o verbo. E se o epílogo se limita a desconstruir a narrativa, o prólogo é altamente dispensável, não pelo agregado de imagens naturalistas altamente superiores – e que poderiam ser uma sequela não-oficial de Baraka -, mas por terminarem com uma ridícula sequência em (mau) cgi, com dinossauros(!).

Terence Malick é mesmo um cineasta acima da média, mas não é assim tão iluminado para que se tenha que venerar qualquer filme seu de olhos fechados. A Árvore Da Vida deve ser um filme a ver antes de morrer por qualquer pessoa de bem, mas Malick já fez bem melhor que este McBacon.

Título: The Tree of Life
Realizador: Terrence Malick
Ano: 2011

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