| CRÍTICAS | Os Homens do Presidente

Em tempos de fake news, onde o jornalismo caiu em descrédito ao mesmo tempo que a iliteracia para os media atinge picos mais altos do que o Evereste, faz todo o sentido recuperar Os Homens do Presidente. O clássico de Alan J. Pakula não é só um bom exemplo do cinema de denúncia sobre importantes casos jornalísticos, como é também todo ele a própria quintessência do jornalismo em si. Não admira que continue a ser visto por todos os alunos de comunicação social como o grande exemplo que é.

Os Homens do Presidente conta a história verídica – e com grande rigor jornalístico – dos dois jornalistas que investigaram e denunciaram o caso Watergate, um dos maiores escândalos políticos da História, que levou inclusive à resignação do presidente norte-americano Richard Nixon. Bob Woodward (Robert Redford) e Carl Bernstein (Dustin Hoffman) eram dois jornalistas sem grande experiência ou background político, mas graças à ética, perseverança e trabalho árduo conseguem destapar e revelar um dos furos do século. Uma verdadeira lição de jornalismo e de como este é o quarto poder.

Alan J. Pakula não deixa de fora qualquer pormenor. Numa altura sem internet ou telemóveis, o filme perde tempo e faz-nos ir à procura de todas as informações e confirmações à unha. O processo é moroso, mas Pakula filma-o com tamanha tensão e sagacidade que nunca nos aborrecemos. E nem sequer necessita de uma banda-sonora manipuladora, para nos dizer o que sentir. Aliás, chegamos mesmo a enervar-nos várias vezes, ficando numa pilha de nervos. Os Homens do Presidente não é nada bom para quem estiver a querer deixar de roer as unhas.

O filme não tem mais nenhuma camada de leitura e isso é a sua maior conquista e o pior defeito ao mesmo tempo. Por um lado, os protagonistas nunca têm espessura pessoal – não têm família, vida social ou grande existência além do jornal -, mas por outro lado faz de Os Homens do Presidente um filme extremamente focado e exclusivamente sobre jornalismo.

Robert Redford deixava também aqui de ser um simples galã e tornava-se no actor/cineasta activista, engajado com as causas nobres. Aliás, foi ele que decidiu trazer a história para o grande ecrã, comprando os direitos do livro de Bernstein e Woodward, o que, na altura, lhe deve ter valido alguns risos de escárnio. E ainda convenceu Dustin Hoffman a juntar-se-lhe na viagem. Excelente filme sobre a arte do story telling e um McBacon para nos lembrarmos como os presidentes também caiem. Nos tempos que correm, é importante manter essa ideia bem presente para conseguirmos alguma sanidade mental.

Título: All The President’s Men
Realizador: Alan J. Pakula
Ano: 1976

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *