| CRÍTICAS | The Beach Bum – A Vida Numa Boa

Desta vez, Harmony Korine até pode ter deixado de lado os miúdos (tudo bem que encontramos Zac Efron no elenco, ele que ainda pode ser considerado um teen idol, mas o protagonista Matthew McConaughey já não vai para jovem), mas a principal temática do seu corpo de obra continua a ser a matéria que molda este novo The Beach Bum – A Vida Numa Boa: a adolescência. Estes personagens podem não ser jovens, mas continuam a ser adolescentes que não cresceram. No fundo, são os mesmos spring breakers do filme anterior de Korine.

Matthew McConaughey é a personagem principal e o eixo sob o qual gira todo o filme. Ele é Moondog, um poeta boémio na costa veraneante da Flórida, que é um a mistura drogada entre o Dude e o capitão Jack Sparrow. Mais tarde iremos perceber que Moondog mantém o seu estilo de vida não graças ao reconhecimento da sua poesia maldita, mas graças à fortuna da esposa (Isla Fisher), que, enquanto Moondog se ausenta para a sua vida desregrada, se enrola com Snoop Dog num caso puramente sexual.

Se Snoop Dog está aqui envolvido, então é fácil adivinhar que há também em The Beach Bum – A Vida Numa Boa muita erva, gajedo, rastafaris e malta pedrada. The Beach Bum – A Vida Numa Boa segue a tradição das comédias stoner, principalmente as de Cheech and Chong, antes destas se tornarem nos American Pies desta vida. Mais do que filmes sobre erva ou fumar erva, são filmes sobre um determinado estilo de vida e tudo o que isso acarreta. No fundo, tudo aquilo que Snoop Dog personifica tão bem.

Há então muita maluquice em The Beach Bum – A Vida Numa Boa. Imaginem um abraço caloroso entre o deboche de O Lobo de Wall Street com o descontrolo de Delírio em Las Vegas e depois multipliquem-no por três. Três? Façam por quatro! The Beach Bum – A Vida Numa Boa não se leva muito a sério, mas quando a tragédia vem bater à porta e Moondog fica, subitamente, entregue a si próprio, o filme transforma-se numa espécie de Odisseia stoner, como se Homero tivesse fumado uma ganda broca. E então percebemos que o filme não é tão inconsequente quanto isso. Aliás, isso é algo do qual começamos a desconfiar após uma cena incrível, ao som de Is that all that there is, de Peggy Lee, estranhamente emocional.

Numa estrutura narrativa vagamente reminiscente de Forrest Gump, Moondog vai saltar de episódio em episódio, em que se cruza com personagens cada vez mais bizarras: o companheiro de reabilitação vagamente sociopata de Zac Efron; o capitão mocado amante de golfinhos de Martin Lawrence (que não aparecia há já 8 anos); ou, claro, Snoop Dog e Jimmy Buffette. The Beach Bum – A Vida Numa Boa é uma apologia hedonista e Moondog é uma espécie de bom selvagem, verdadeiramente amoral, a quema vida sorri porque não há qualquer ponta de maldade no seu interior. Abel Ferrara iria gostar (se fumar um porro antes, claro). E à medida que escrevo este texto, percebo como é também um feelgood movie de boas vibrações, que nos deixa de bem com a vida. O McBacon serve, portanto, de confort food também, para aconchegar a ressaca.

Título: The Beach Bum
Realizador: Harmony Korine
Ano: 2019

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