O Hotel Império foi, durante muitos anos da ocupação portuguesa, o mais luxuoso hotel de Macau. Contudo, actualmente é apenas uma sombra do que foi, uma espelunca decadente que apenas alberga prostitutas, artistas falhados e outro rejeitados da sociedade. O Hotel Império é o Chelsea Hotel de Macau e Margarida Vila-Nova, filha do proprietário, vê-se grega para pagar as contas e as dívidas do pai.

O Hotel Império é também um sinal de um tempo que já acabou, de uma Macau portuguesa, que cedeu ao capitalismo desenfreado, a um skyline tão pós-modernista quanto anónimo, e à ganância dos casinos e de tudo o que de mais subterrâneo gira à volta desse mundo. Existem, portanto, várias semelhanças entre Hotel Império e Cabaret Maxime, outro filme sobre o final de um tempo e sobre uma casa de diversão nocturna que era também uma ilha numa cidade capturada pela globalização impiedosa. E, tal como esse, Hotel Império também cruza a realidade portuguesa com uma outra que só conhecemos do cinema. A diferença é que esta é bem real e existe mesmo.

A fotografia que Hotel Império tira de Macau é mesmo o melhor do filme de Ivo Ferreira, ele que vive(u) aí com Margarida Vila-Nova. E ela é, precisamente, a segunda melhor coisa do filme, a resistir estoicamente à falência do hotel (e da sua vida), a ter que ir trabalhar para um peep show em vez das cantorias nos casinos e ainda ter que aturar Gustavo (Cândido Ferreira), um estranho e misterioso tipo que vau surgir na equação.

O problema é que depois, durante muitas vezesm o filme parece desajjustado às suas próprias roupas. É como as cenas de Cândido Ferreira a praticar tai chi que, em vez de serem cenas de um homem a fazer tai chi, são cenas de um actor a tentar representar um homem a fazer tai chi. A diferença pode parecer curta, mas é determinante para Hotel Império, McChicken bem intencionado e de ideias sólidas, mas de concretização nem sempre a mais segura.

Título: Hotel Império
Realizador: Ivo Ferreira
Ano: 2018